Revista da Academia Paraense de Letras 1952 (Janeiro v2 ex2)

REVISTA DA ACADEMIA PARAENSE DE LETRAS 71 o ilustre reclplendárlo e o dclctrenelor obscuro n quem foi outorgado o honrosíssimo oficio ele dar-lhe as bons vindas em nome desta au– gusta corpornç,lo. f:sse llamc procede do Imortal renome. luminosamente conquista– do nas letras paraenscs, elos áureos patronos das cadeiras que nesta ~olcnldade se defrontam, uma, que me clesv,1nece guardar, colocada sob n égide grandiosa de João Marques de Car valho, cujo panegírico, pósto que sucinto. pela primeira vez se me apresenta ensejo ele fazer ; à outra. evocando o engenho fulgente de Tito Franco de Almeida, preenchida por algum tempo pela mentalidade Irradiante de Osvaldo Orlco e agora confiada no vitorioso neófito que nossas palmas há pouco consagrnrain. Pronunclnnclo esses nomes. fixados com relevo n a familia Intelec– tual ela região guaJarlna. conclm<lmos o pensamento a relembrar os primeiros anos deste seculo, quando o Pnrá se orgulhava de uma lu– ztcln pl61ade ele nababos cio talen to, que competindo na sublime ar te elo bom falar, cio melhor escrever e mantendo associações culturais, construiram primorosamente. cm prosa ou verso, na tribu na, no púl– pito. na Imprensa e no llvro. um ecllflclo lcleal e deslumbrante, que as gerações seguintes aclmlrnm, mas não quiseram ou ni\o puderam superar. · BEU:M DE 1900/ 1910 Verdade que o ambiente era outro. As preocupações de ordem material não ensombravam tanto a existência como na atualidade sól acon tecer. Com uma duzla de mil francos, atravessava-se o Atlântico e fruta-se uma temporada em Paris . Não existiam cinema nem o radio, mas as Companhias lirlcas e dramáticas nos visitavam amlude, desafiando o germe amnrillco e compensada.s com as pingues receitas. produzidas pela multidão que afluln neste Teatro e no inconfor tável Politeama, para aplaudi-las ou pateá-las. A infernelra do "Jazz" era desconhecida ; h avia excelentes orquestras é valsistas exlm los, inve– Jnclos, arrebatavam os corações das Jovens. Promovia-se recepções elegantes. As senhoritas declnmavam bem, na nossn ou na llngua de Racine. Familias reuniam-se, à noite, nos passeios. A arte de con– versar possuia mestres requintaclos. Na Indumentária masculina n!\o se dispensava o chapéu, a gravata. as luvas e a bengala . Ensinava-se aos moços o "Compêndio de Clv111dade", de D. Macedo Costa. Igno– rá vamos o automovel ; dispúnhamos de carruagen~ com parelhas de bom porte e nutomedontes alinhados. E enquanto os elétricos nt\o apareciam, valiam-nos as duas oltolns da velha "Urbana", embora os passageiros ajudassem, algumas vezes, 0 ·esforço dos burricos nas su – bidas ... Nn cidade, com o auxilio de vultosas rendas e empréstimos ruinosos, o governo levantava edlflclos Imponentes e preparava logra– douros com lagos, repuxos e obras de arte. As Igrejas viviam reple– tas; era dever e era chique não faltar nos domingos à Sé. E ó povo, que ainda n ão nssimllarn o llvre exerciclo de cultos assegurados pela Rcpúbllca , npectreJavn, vez por ou tra, as casas ele oração dos cristãos acntóllcos, as slnagogns e ns reuniões espiritas "que começavam a en– saiar-se. Os literatos regionais medravam nas colunas dos periódi– cos, ao lado de colnboraclores · seletos contratados dentro e fora ~ ~~- ' Gastava-se n valer, nas bancas dos cafés onde os boêmios finos se Junt avam, cultuando a "deusa de ouro com cabelos brancos·•, na de– finição pitoresca do extinto mestre Eustáquio de Azevedo, ou Inge– rindo líquidos outros menos Inocentes. Figuras de pró!, quase todos no Jornalismo e nas letras, nmesendavam-se no famoso "Cabaret" e bares ele Igual quilate. formando clrculos no acaso ou conforme os graus de mútua simpatia. E epicuristas professos na mór parte, sec– tários do ecletismo que os sincronizava. discutiam problemas trans– cendentes, permutavam anedotas fesceninas, critica vam os medalhões coevos e. Imitando o descuido jovial da cigarra, nunca II austera pre– vidência da formiga, ria m sinceramente da vicia, dafi convenções. do fanatismo e dos próprios companheiros de idade, quect> casamen to, ou o Ingresso em função de responsnbllldnde afastava das estúrdins diur– n as e das n oitadas do "Moulin". Rareiam Já os sobreviventes desse mcmoravel período em que flo– resceram tantos vultos magníficos, extraordinários esgrimistas da mais aguda Ironia, cu jas clnt llações, se aproveitndns e clisclpllnudas, m ul tas obras-primos nos teriam legado, perpetunnclo-lhes os nomes. Nüo Impor ta. Recordados na t rndlçáo ou através das palavras escri– tas que deixaram, morlgerados ou extravagantes, regrados ou estrólnas na conduta, foram abelhas afanosas de opulento cortiço, garimpeiros

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