Revista da Academia Paraense de Letras 1952 (Janeiro v2 ex2)

,; :RÊVtSTA DA ACADEMIA i"AI'lAEN'SE DJ:! LETMS 61 PRECIPITAÇÃO PARA A MORTE Quando ·os médicos chegaram à conclusão de que Acilino de Leão não errara no diagnóstico da sua própria doença, reconheceram que 'os dias do mestre .insigne estavam conta– dos. Mas, Acilino exigiu a intervenção cirúrgica. Sou dos que acreditam que Acilino lançou mão da operação como uma precipitação para a morte. Na interven ção cirúrgica, a cujo traumatismo dificilmente ele resistiria, viu uma m aneira científica de abreviar seus dias, ao me~mo tempo que con– venceria colegas, amigos e parentes da inutilidade de qual– quer tentativa para curá-lo. A gente h umilde de Belém chorou a morte de Acilino de Leão. Ele não prometia nada aos outros, mas curava todos aqueles que podia, não .fazendo de sua profissão um meio fácil de enriquecimento rápido. Morreu pobre, mas com a consciência tranquila, conquistando a maior glória a que os espíritos e le itos aspiram no mundo : ficar na memória dos homens como um símbolo e um exemplo. Assistimos no cemitério de Sta. Isabel a cenas que ja– mais serão olvidadas, cenas que abalaram nossa sentimenta– lidade, fazendo com que mais ainda nos convencessemos de que o homem que pratica o bem alcança a máxima glória para a imortalidade. Mulheres do povo, jovens dos subúr– bios, crianças choravam, jogando flores na sepultura de um homem bom. Não eram lágrimas encomendadas. Acilino de Leão · r ecebeu, depois de morto, a maior consagração a que se pode aspirar na vida e que nenhum outro homem jamais receberá, neste século e neste mundo, enqu anto vivo fôr. Porque as manifestações aos vivos não têm jamais o carate– rístico da sinceridade inderrocável. Dos vivos, sempre a gen– te reclama, em cada dia, mais um favor e mais um sacrifício. Nunca ficam os homens satisfeitos. E o desaparecimento de Acilino de L eão teve um cunho, um característico todo es– pecial : durou sua enfermidade oito dias apenas. Ninguém pôde esquecê-lo, porque há enfermidades que provocam o esquecimento, devido ao tempo de: sua duração. Acilino en– fermou para morrer. E até hoje a gente a inda acredita que ele viva. E ele viverá sempre na memória daqueles que n ~o são mesquinhos, nem imbecis, nem transfugas. Ele há d e vi– ver na memór ia de todos, porque a todos ele socorreu direta ou indirétamente. Quantia a moite r ondava o leito de a l– guém, e uma junta médica se impunha, infalivelmente Acili- 110 de Leão era convocado. O mestre e o santo tinham de estar presente. • • SILtNCIO Apóstolo da Medicina, mestre de direito, literato de re– cursos lar gos e de cultura superior, Acilino de Leão prestou serviços ao Pará e ao Brasil em todos os setores de suas múltiplas atividades. Nunca, parece, um só homem .reuniu tanto valer para ta n tas obrigações profissionais e técnicas, exercendo-as com uma pontualidade invulgar, sem se descui– dar de nenhuma, a todas servindo com uma dedicação ímpar e inexcedível.

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