Revista da Academia Paraense de Letras 1952 (Janeiro v2 ex2)

REVISTA DA ACADEMIA PARAENSE DE LETRAS desespero quando a enfermidade mina seu próprio organis– mo ou destrói o organismo de algum membro de sua família. O médico, então, tem a consciência de todo o mal e tem que ser ele mesmo o seu próprio consolador. É nessa hora tre– menda dos destínos humanos que o médico se convence da inutilidade de todo o seu saber, da inutilidade da própria ciência, dominado pela revolta humana que o fim da vida provoca mas qu e a morte domina com a sua inexorabilidade demoníaca. E o médico, consumado tudo, encontra apenas no milagre da fé o supremo milagre da sublime e apoteótica resignação. · Acilino de Leão morreu como homem, resignado com o seu fim, e, como médico, consciente e orgulhoso de que não errara no seu próprio diagnóstico. E soube ser gigante, su– per-humano nos seus sofrimentos atrozes, sómente baquean– do para morrer, ministrando aulas aos que o assistiam e di– zendo ser inútil mais sôro ou mais oxigênio porque a ciência não resolvia aquilo que nem Deus por certo também resol– veria, porque a morte é a mais soberba d emonstração da su– perioridadP divina. O EXEMPLO Os oito dias de sofrimento de Acilino de Leão constituí– ram para os homens de espírito superior uma demonstração soberba de grandeza moral. Perdoou todos os seus inimigos, aos quais odiava com a dignidade de sua fortaleza moral, nunca encobrindo o va lor de nenhum deles. E o3 seus iri.1mi– gos, o Pará inteiro o ,sabe e isso 3entiu de pú blico, também o perdoaram. O gesto de Acilino de Leão e a atitude de seus inimigos são. a testados eloquentes de uma coisa que talvez muita gente não· tenha ainda observado : é que os homens de espírito, os homens de formação moral cristã, os homens que não se deixam vencer pelo ódio, os homens que manejam a pena e analisam os próprios e os alheios sentimentos, odeiam– se, apenas, superficialmente, mas se respeitam e se querem ~o fundo, interiormente. O ódio entre eles é feito de grandeza moral e não de he– diondez de vingança, porque é na a limentação da vindicta e na ânsia de alcançá-la que o homem dá a mais soberba e indesmentível demonstracão de animalidade e bestialidade. Existem, sem dúvida, homens de espírito que alimentam o ódio com a sede da vingança. Mas estes são amaldiçoado3, e tudo o que possuem não é sólido nem nobre, desde a cultura até a educação social. São hipócritas em tôdas as situações e até mesmo no ódio, porque o ódio só tem valor se se apoia na decencia e na dignidade para derrotar o odiado. O homem de espírito só sabe d errotar o desafeto com as armas do pró– prio espírito e não com as flechas venenosas da ignomírna. Assim era Acilino de Leão e assim fôram os seus inimi– gos. Façamos e proclamemos bem alto esta justiça a um e a outros. I

RkJQdWJsaXNoZXIy MjU4NjU0