Revista da Academia Paraense de Letras 1952 (Janeiro v2 ex2)

1 84 '.REVISTA !>A ACADEMIA PAMENSE !>E LETMS diretoría. Quantas vezes, da 1·esidência de algum enfermo que fôra arrancar dos braços da Morte, ele me telefonava para sugerir esta ou aquela providência para o alevanta– mento da Academia. E não ficava na sugestão. Invariável– mente havia uma palestra demorada, porque Acilino fazia ·milagres com o tempo. Lia tudo, tudo conhecia, nada ignorava. Tínhamos nele uma confiança ilimitada e s.ihemos, nós, os acadêmicos, que jámais a Academia de Letras do Pará terá um homem igual ou superior a Acilino de Leão. Não esqueço nunca, a sessão solene de posse de José Maria Hesketh Condurú.Acilino de Leão, que se batera pela entrada do grande professor de História Natural, foi esco– lhido para saudá-lo em norr.e do Silogeu. E quando Acilin0 ia falar ninguém ali faltava. Era um encanto ouvi-lo. Acilino de Leão era o orador que não cansava a assistência e acredi– to mesmo que se fosse usarlo o direHo de se pedir bis aos que discursam, o insigne mestre teria rebisado, muitas vezes, os discursos que pronunciou na Academia. Todos os acadêmicos estavam lá :firmes, ansiosos de ou– vir o discurso do mestre. E ele ergueu-se, envergando o fato branco, o terno alvo que usava sempre e com o qual se en– terrou, porque entendia que se vestisse um terno escuro dei – xaria de ser o Acilino de Leão. Ergueu-se e começou a falar. 'E fugindo à praxe acadêmica, falou de "improviso, mas de _improviso de verdade. Não decorára o discurso. E d1;1r~nte ·uma hora prende u ·a atenção da assistência seleta e d1stmta com o seu verbo eloquente, erudito, num discurso que guar– damos na memória, mas que se perdeu no tempo. Acredito que o facto acima seja único na história literá– ria do Pará, se não o for na vida intelectual de todo o Brasil Um acadêmico saudar um novo "imortal" falando qe im– 'proviso, durante uma hora. Aliás, Acilino de Leão tinha a fa– cilidade notável de dizer tudo sem escrever antes. Era uma cultura admirável a serviço de um talento soberbo. O SOFREDOR RESIGNADO 'Falemos do homem nos de rradeiros dias de sua vida. São detalhes impressionantes de sua existência. que valem ·ser revelados ao público e que a mim .foram narrados por pessoas de sua família. Certa tarde, Clóvis Meira Joi visitar o mestre. Não re– ·Sistir a ele mais à impiedade do mal que destruiu seu fígado. Mas estava calado. escondendo de todos a sua enfermidad!:?. Até então sua família ignorava sua verdadeira doença. Viam apenas q ue Acilino de dia para dia emagrecia, definhava. Pediu que a esposa e a cunhada o deixassem só com Meira. Atendido no ap êlo, falou ao antigo discípulo, mais ou menos 'O seguinte, percebido por aquelas duas senhoras pela indis– creção das venezianas da& portas que separam os quartos da residência de Acilino de Leão : - Meira, no tempo de São Francisco de Sales, quando um doente estava desenganado pela ciência e a sua cura de• pendia ·de um milagre de Deus, as irmãs, a esposa, os filhos

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