Revista da Academia Paraense de Letras 1952 (Janeiro v2 ex2)

REVISTA DA ACADEMIA PARAENSE DE LETRAS O HOl\'!EM E O MÉDICO Desde o primeiro encontro e a primeira palestra cordial na Academia .P araense de Letras ví, sentí e analisei Acilino de Leão. a quem me ligaram, desde então, laços de uma ami– zade r espeitosa, firme, inabalável. Senti nele- e disso n in– guém conseguiu e nem conseguirá jamais demover-me - um homem de caráter, um espírito cr istão puro, um homem que nunca falou no mal senão para condená-lo, um democrata sincero, intransigente nas suas elevadas idéias liberais. Tinha. confesso, pelo dr. Acilino de Leão uma admiração •quase santa. Sabia-o honesto em todos o;:; lances de sua vida, e em– polgava-me a isenção de ân imo com que julgava os homen-;, até mesmo os seus inimigos declarados. Não odiava ninguém com o ódio da vingança. Poderia odiar, mas não com o ódio que humilha e amendronta o desafeto, mas para que ninguém p ensasse que havia morrido nele a consciên cia do amor pró– prio ofendido. E por n ão odiar ninguém é que fez da arte de curar o seu luminoso sacerdf>cio. Não concebo, aliás, um mé– dico, um cirurgião, um cientísta que guar de no fundo dalm::i. ódios ou malquerenças. Princ:ipa lmente se dotado . de uma i::11ltura aprimorada e de uma inteligência lúcida. O homem de ciência que alimenta o germem d estruidor do ódio cons– ti t ui um perigo à sociedade e ao mu ndo. Acilino de Leão pai– rava acima de tudo isso, porque era um nobre e um puro d-: ·sentimentos. Plasmára seu car áter nos sublimes ensinamen– tos da mais pura de todas as religiões universais: a católica ·a postólica romana. Reafirmo aqui o que disse de início: eles– conheço os seus pecados e ignoro as suas culpas, que se de.– vem ter perdido n as distâ ncias dos lon~ínquos, para afirmar de sã consciência que ~e errou ou pecou alguma vez disso se arrependeu, numa demonstração eloquente de superio.ri – dade espiritual. Nem os seus inimigos, os mais ferrenhos, lhe negarão a virtude aqui sinceramente exaltada. O ACADí:MICO Dentro da Academia Paraense de Letras Acilino de Leão ei:a um s ímbolo. Era o santo da nossa Catedral de Luz, de Idéias, de Sonhos, de Poesias, de Belezas. E sendo o nosso Santo er a o nosso Mestre e era o nosso amigo. Fui, durante dois anos consecutivos, e com quanto orgulho, seu secretáriq, quando ele presidiu o nosso Silogeu. E foi durante esses vin– te quatro meses que pude bem analisar os sen timentos ele~ vadíssimos do homem cuja morte o Pará inteiro chorou e ainda chora. Amava a Academia de Letras e nela via um prolongamento de sua casa, uma parte integrante do seu des, t ino, um complemento de sua própria vida. Pontual, d e uma pontualidade que nos surpreendia, Acilino de Leão realizou em dois anos o milagre de r eerguer e colocar a Academia de Letras num níve l de invejável posição no cenário das letras nacionais. Modesto, simples, rlistinto: afável me igo tudo ne~e significava talento e bondade. Com pleno~ poder~s para agir, porque era o mestre e o santo daquela casa, jamais to– ;rnou qualquer delibernção sem ouvir seus companheiros d~

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