Revista da Academia Paraense de Letras 1952 (Janeiro v2 ex2)
'S2 ' lttVISTA DA ACADEMIA PARAENSE DE LETRAS queles que erram pelo fatalismo da carne e do espírito, o ho mem se torna um bom e só pratica o bem, sem esperar re– compensas e sem medir gratidões. Porque o bem só tem a verdadeira significação do sublime se é praticado sem o obje– tivo da recompensa imediata ou longínqua e sem as algemas humilhantes da gratidão que, muitas vezes, muitos homens querem seja sobreposta à própria dignidade e à própria li– berdade. Assim deve ter sido Acilino de Leão, se alguma vez erro•J ou se alguma vez pecou. Era homem e não podia fugir ao determinismo da própria fatalidade humana da qual não es– capam nem os santos, que pecam pelo espírito, mesmo qu~ escondendo da prática a h-::diondez de um ato pensado. Assim eu vejo Acilino de Leão, grande, enorme, imenso na sua bondade sem exemplo, gigante no seu destino de fa– zer o bem. Não procurava nunca saber de onde vinha, qual R procedencia de um pedido de socorro, de um apelo de cura. Nada pedia para atender ao chamado da Dor. Ia em socorro da Aflição sozinho, ele, somente ele, movido pelas suas pro– prias pernas. Nunca sofr0u <lo delírio da posição de clínico inigualável, nem se envaidecera com a consciência do saber profundo. Podia vir de muito longe o grito e ser forte o éco da súplica. Ele ia R pé, não fugindo nunca. Jamais se negou a atender a um chamado. A medicina era o seu luminoso, o seu sacrossanto sacerdócio. Fugiremos à verdade ao dizer que Acilino de Leão era mais médico do que homem? Ou será certo que o médico nada mais era do que o retrato fiél do homem ? Acreditamos mais na última hipótese, parà di– zer, mais uma vez. que Acilino de Leão era bom por ter compreendido que só pela prática constante do bem é que os homens mais se aproximam de .Deus e encontram, na terra, a serena, a grande, a sublime tranquilidade de espírito que é a glória imortal de todos os espíritos eleitos. A incompreensão humana, o ódio dos espíritos mesqui– nhos, o despeito dos que se julgam superiores na mediocri• dade de sua visãcnmr<! o•fütu1•0· mas na elasticidade de sua am– bição para o mal, tudo podem negar a Acilino de Leão, menos o grande, o seu grande e indesmentível valôr de homem pro-– fundamente, sinceramente. humanamente bom. Ninguém nesta terra o desconhecia, porque a ninguém ele distinguia com maior ou menor consideração. Todos lhe eram iguais. Culto, de uma cultura invejável porque completa e universal, in– teligente, porque dotado de um espírito eleito que não ne– cessita de leituras especiais para revelar o fundo magnâni– mo da alma, talentoso por vocação ao estudo, Acilino de L eão, como médico e como mestre de direito, sabia que dian– te do poder insuperável de Deus n enhum poder mais alto 5~ alevànta. Conhecia a doençà física de muitos e a doença mo– ral de quase todos, senão de todos, porque esta não depende do microscópio dos gabinetes bacteriológicos. Está retratada na face ou se revela numa frase, num gesto ou numa ·atitude. Era bom porque cor.sciência possuía de que o mal não constrói, pois somente um poder, na terra, se iguala ao po– der de Deus, no céu - o poder do bem.
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