Revista da Academia Paraense de Letras 1952 (Janeiro v2 ex2)

if ltEVISTÁ bA ACADEMIA PARAENSE DE LETRAS 59 O reconstrutor de Macapá, major Janari Gentil Nunes, é o Se– bastião de Melo de nossos dias, ali, naquele rincão há três séculos guardado pela formidável atalaia erguida na bõca do Rio-Mar, pela previdência do famoso Ministro de El-Rei D. José I. Foi êsse jovem oficial do Exército do Brasil, meu caro Acilino, investido em cargo civil, que tem- sabido honrar, pelo trabalho do mais compreensível patriotismo, cargo que não só ocupa, mas pre– enche, plenamente, com o maior esfôrço, bõa vontade, rigoroso de– ver, largo espírito público, justa e clara visão administrativa, que, como Pombal quando, ardendo em zêlos pela Pátria, alevantava o então inexpugnável- Forte de São José de Macapá, veio p lantar em Belém o abrigo destinado à matéria, que é Pó, e que foi animada pelo teu Espírito Imortal, que aqui está presente, para sentir os aconchegos de tua Terra Mãe, argamassada nas lápides marmoristi– cas, cheias de saudàdes do filho ilustre e eminente, que de lá se par– tiu em juventude descuidada, e que, só agora a Ela se reune, nesta silenciosa cidade tumular, aonde todos se igualam no dia da Partida Derradeira. Aqui estás, meu caro Acilino, entre gente que ri tristonha, gen– te que te amou e não te esquece : aqui estás, meu caro Acilino, com estimáveis companheiros de tertúlias literárias : aqui estás comigo, que te vejo e te reconheço : estás com este teu velho camarada de todos os tempos, de longo convívio de meio século, com êste teu mudo confidente de histórias passadas, envoltas nas brumas dos tempos, que, sabendo de tua aterrissagem neste chão sagrado, veio até cá renovar as emoções que o empolgaram, a pena que lanci– nou sua alma e seu coração, naquele dia fatidico em que nos dei– xaste, sem promessas de regresso . Grato, este momento; grato este encontro contigo, que sei não mais se repetirá, porque outra licença não terás dos Deuses Imortais, para deixares teu lugar entre êles e aqui volveres em fugaz minuto, a confabular, como estamos, graças a êsse condão de sorte de Janari Nunes, ao requerer da Imortalidade tua presença nesta sucursal de universal metrópole, em que os au– sentes externos vêm uma vez sómente para cerimônias como a que acabas de receber, promovidas pela saudosa lembrança do teu tor– rãozinho perdido na imensidade amazônica, trazida na generosidade dêsse ilustre homem público, que fez de decadente aldeia esborci– nada pelo descaso dos homens e canseiras das idades, uma capital florescente, restaurando o seu prestigio de outrõra, engrandecendo-a como jamais ela cresceu, o que significa afirmar que o esplendor de hoje, da velha cidade centenária, foi êle, Janari Nunes o criador; foi êle, o administrador exemplar, que ministrou, injetando-lhe o sôro vital de suas energias moças voronofizando-lhes as cédulas e arrancando-a da senilidade em que jazia, para as alegrias da atua– lidade, rejuvenescida, completamente refeita e afastada da caduqui– ce de êras distantes . Não te podes queilar neste suave e confortador entretenimento. Tua visita é mesmo uma visita de médico, rápida, de quem tem mil outros afazeres, aquêles do teu feitio de esmoler da assistência aos que sofriam, aos que necessitavam da tua ciência, do teu saber, da bondade de que teu coração era um ninho, e da liberalidade de tua bolsa, sempre aberta, como sempre aberta à caridade, fôra a alma piedosa de São Francisco de Assis, cujas virtudes de amor ao pró– ximo. copiavas, praticavas e exemplarizavas. Adeus, meu caro Acilino : Abraça, ali, Janari Nunes e agradece-lhe a ventura que te deu de poderes beijar, nesta hora de compunç·ão partfc!:11as de b'.c'rro o,xt~emecidç> _de tua velha Macapá, hoje botá,; em flor, nas maos habe1s do sab10 e honrado peregrino que a go– verna . Beija tua esposa magoada e saudosa e parentes que a assis– tem cheios df. dôres, ela e êles banhados em pranto. E abraça-me, ineu caro. Aéílino. Dá-ine a tua n:ião e1:1 aperto final ; apressa-te, q_ue os m1_nutos se esgotam. Um dia, mais tarde poderei estar con– tigo. _Ya1 ! Os De uses Imortais reclamam teu regresso, enquanto todos ficamos no vácuo ele tua falta .. . Pará, Belém, 17-10-1951.

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