Revista da Academia Paraense de Letras 1952 (Janeiro v2 ex2)
fiEVISTA DA ACADEMIA PARAENSE DE LETRAS 57 HOJE E AMANHA De RODRIGUES PINAGÉ (Proferido na festa ele comemoração· do cinquentenário da Academia Paraense. de Letras). AOS MEUS ATUAIS CONFRADES Abre o seio, Amazônia ! Alarga a superfície ! Deixa a Vitória-Régia aromar a planície e o Uirapurú flautear a taba de Jací ! Deixa que se misture entre a nossa família a linguagem que o luso espalhou na Brasília, escondendo da raça o valor de Tupi ! Que importa ! O Gênio é o mesmo. A beleza suprema que inspirara Alencar, nos olhos de Iracema, Jaques Flôres sentiu, com a mesma inspiração, gravando em letras de ouro, à luz meridiana, a figura imortal de Severa Romana, cujo olhar provocára a selvagem paixão ! Todos nós temos na alma uns trechos de romance ! Bem feliz o que deixa, ao menos, de relance, a testificação das horas que 'viveu. J\.lesmo no sofrimento, é necessário o canto. Cantemos, para que não nos lacere tanto, todo o mal 1>elo bem que o Destino nos deu ! Vê ! Quando a Natureza o largo céu decora, preparando um altar para as missas da aurora e ribaltas azuis para a estréia do sol, ouvimos como que, nas flôres e nos ramos, um Deus que nos convida a cantar ! E cantamos a terra e o céu e o mar e o ocaso e o arrebol ! Cantamos porque, Deus é tudo e tudo inspira ! Cada átomo é uma nota inflamante, na lira que empunhamos, saudando a luz universal ! Cada romance - é um céu ; cada estrofe - uma estrêla, e o inspirado cantôr, ansioso de acendê-Ia, engasta em cada ponta um sonho virginal ! Quando o século vier completar a jornada e encontrar-me a dormir na perpétua morada, sem a lira nas mãos . . . ficarei a cantar nas orações que fiz, no silêncio das naves nos hinos que deixei na garganta das ave; nas canções que arranquei das entranhas do mar ! Belém, 7-5-1950 ,
RkJQdWJsaXNoZXIy MjU4NjU0