Revista da Academia Paraense de Letras 1952 (Janeiro v2 ex2)

REVISTA DA ACADEMIA PARAENSE DE LETRAS so Justamente com Pierre Petroz : "O realismo moderno não consiste únicamente em reproduzir a s formas, em representar os espetáculos que nos oferece a natureza, co1no muitos o supõe1n, mesmo entre os espíritos cultos. Esta tradução exata e formal, apesa r de sua Impor– tância, não é senão o lado exterior e de algum modo técnico. MAS O QUE O CARACTERIZA ESSENCIALMENTE, o que lhe d á o seu ver– dadeiro valor e lhe marca um lugar considerável na história da arte, É QUE REPELE DE UMA MANEIRA ABSOLUTA, IRREVOGAVEL, TODA A SUGESTÃO TEOLÓGICA E METAFÍSICA . Afastadas as cau– sas de erros ou de perturbações intelectuais, ficam o mundo e a hu– manidade, fonte de poesia como de verdade". (6) É Isto, é a verdade. Esta é que é a grande necessidade do ro– mancista moderno. Sem ela nada há de estável nem duradouro, nes– ta quadra de vitorioso positivismo. E agora, Já que está dada a explicação do modo por que eu en– caro o Naturalismo, permita-se-me prosseguir no estudo que tomei sõbre os ombros. Em tais condições eu rejubilo-me em vêr no caráter de Brito umas boas tendências para o Realismo. Quando o terei de passagem para meu lado?... Faço esta pergunta a mim próprio, lamentando a ln– verosslml}bança da Idéia do livro dele, quando tantas cenas verdadei– ras e naturais ai se me deparam agradàvelmente. Exemplifiquemos. É completamen te falsa a constituição moral de Berta. Alma d e anjo, Pa ulino de Brito deixou-se Iludir pelas fantasiosas criações do seu Ideal, e descreve-nos uma Berta sensibilíssima, romântica, tõda cheia de caprichos, apaixonando-se por um en te que não conhece aind a, únicamente por ter-lhe ouvido a voz!... Desenvolvendo-se no Pará, os episódios de O HOMEM DAS SERENATAS devem ser genui– namente paraenses, bem como paraenses devem ser todos os seus per– sonagens. Ora, sem medo de errar, confesso que Jámals se achará em nossa querida Belém uma outra Berta que não seja a do livro do meu amigo ... Outro tipo ainda multo exagerado é o do Anacleto, o conjunto de pedantismo, tolice e Ignorância. Sei que há entre nós bastantes Anacletos, poróm nunca excessivos em suas massadas, em seu propó– sito de amar a torto e a direito, causando enfado no objeto do seu a mor, ou aos Infelizes que têm a desgraça d e os conhecer. Obra Inicial da série de romances czue Paulino de Brito pretende escrever, O HOMEM DAS SERENATAS por motivo algum poderia sair expurgado d êstes defeitos que rev~nm ainda pouca firmeza de Jul– gamento, ou melhor , um exagerado desejo de bem descrever os carac– teres dos p ersonagens. Vou encerrar êste capitulo. Antes de o fazer, porém, consinta Paulino.de B_rlto que lhe repita uns períodos de Emlllo Zola, solici– tando sobre eles multa meditação : "Sómente o método experimental, - d iz o Insigne, escritor - pode tirar o romance dos erros e mentiras em que jaz. Tõda a minha vida literária foi dirigida por esta convicção. sou surdo à voz dos críticos que me pedem pa ra formular as leis da heredltàrledade nos personagens_ e ns da Influência mesológlca ; nquêles que me fazem estas obJcçoes negativas e desanimadoras não me as fazem senão por preguiça de. espírito, por teimosia na t radição, por ligação mais ou menos consciente a creanças filosóficas e relig iosas . . . Hoje em dia é definitiva n direção experimental que o romance toma. Efeti– vamente, tal facto não resulta ela Influência efêmera dum sistema pessoa l qualquer; é o resulta do da evolução clentirtca, do estudo do próprio h omem. Sl\o ns minhas convicções n respeito que cu tento fazer penetrar no espírito dos Jovens escritores que me lêem, porque sou de opinião que, antes de tudo, é mister Inspirar-lhes o espfrlto científico e os Iniciar nas noções e tendências das ciências mo– d ernas". (7) 1) - Vide "Uma reparação", - série de folhetins publicados na "Pro– víncia do Pará" em Julho e agôsto do corrente ano. (1887) 2) Deixo de entrar em longas m inúcias acêrca dessa Influência da escola romântica sóbre Paulino de Brito, para não reproduzir o que Já escrevi nos aludid os folhetins. 3) "Le Roman Experimental", pag. 208. 4 ) - E . Zola, obra e página citadas. 5) - Edmundo de Goncourt, - prefácio de "Germlnle Lacerteux". 6) _ "La Phllosophle Positive, revue, vai. XX, pag. 245. '.l~ - "1.,e Roman lilisperlmeutal", pag, 40 -1.

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