Revista da Academia Paraense de Letras 1952 (Janeiro v2 ex2)
REVISTA DA ACADEMIA PARAENSE nE LETRAS st culos tinham grande aversiio às obras primas da escola naturalista que apenas .cm11cçava n propagar-se no Brasil. E isto pelo sltnple~ motivo de não a compreenderem .. . Era de ver-se os bons .velhotes bracejando contra "Le pére Gorlot" e contra "Snlnmbõ", fulminan– do-os com os piores apodos, quando, no remanso da alcova, extasia– vam-se todos, multo sensuais e velhacos, ante ns páginas emporc.,– lhndas de Paulo de Kock e do Marquês de Sade ! . . . Era caso para cl– ta_r -se o afo~lsmo popular que manda fazer o q ue diz o conselheiro e nao o que ele faz .. . Faltou_ a Paulino de ~rito uma boa orlentaçflo, repito. A questão ele educaçu? intelectual e tudo neste assunto. Houvessem Já chega– do ao Para ~s efeitos da reação n aturalista, nn meninice do n1eu hlografaclo, e este_ seria hoje um apóstolo cio realismo, não há duvidar. Mas assim n ao sucedeu, Infelizmente. Foi por Isso que O HO– MEJ\;!; DAS SER~NATAS nos apareceu como uma obra cio Romantismo. Este_ perfil e expressamente escrito para minha província, onde é populansslmo o llvro de Brito. Por consequência, eu náo me deterei a_ explicar ao leitor o entrecho da obra : farei a penas algumas llgel– r,sslmas observações sõbre a forma e o Itmdo : - observações que me ocorrem agora, que acabo d e reler O HOMEM DAS SERENATAS. O estilo é de lei : fluente e correto. Paulino tem um vocabulário bastante largo, porém seleto, extreme dessas palavras hlmbalirndas e csqulsltns, que parecen1 constituir a 1nais per;;ts·~cnte preocupação da mór parte dos JLteratos hocllernos. Longe de Imitar o estilo lnsu por– tàvelmente pesadão dos escritores franceses contemporâneos, de Pon– son clu Terra ll - romancista pífio, multo apreciado pela mocidade - que a todo 11101nento obrign1n o leitor a sair da casa do conde X para se d irigir ao palácio do marqu ês de V., de "claque" em punho, Im– perturbável, com o colarinho teso, o laço da gravata Irrepreensivel– mente feito e a casacr,. ben1 csconula, tr!lnspirando aborrecimento por todos os póros da pacif,ncla, - Paulino ele Brito permite que a gente se vista à vontade para assistir n tnna familiar "soirée" 1nusical cin casa de un1 de seus personagens ; leva a sua condescendência no ponto de consentir que nos ponhan105 en1 n1angas de camisa, e va- 1110s encontrar num modesto quarto de hotel do bntrro comercial o Alherto, o protagonista, eom as barhas .crescidas, pensando em Berta, cujo retrato tem nas mãos, diante cios olhos, deixando expandir-se pelas paredes gêHdamente nuas do aposento o transbórdo d e amor que · lhe Inunda a alma ! E deixem-me logo dizer que, a1-esar de tõcla a sua educação ro- !=nântica, eu tenho hnensn alegria ein reconhecer no caráter literário de Paulino ele Brito grande propensão para o Naturalismo. É uma verdade. Quem quer que tenha Jlclo O HOJ\1EM DAS SERENATAS me acompanhará nesta opinião. O meu hlografado é um ohservador aten– to, além de ser um " con teur" consciencioso. Páginas há, em o livr o de que me ocupo, que são magnificas de verdade, encerrando cenas tecidas segundo os modelos da vida real. Às vezes parece que o leitor penetrou de súbito no selo de uma de nossas famlllas burguêsmente pacatas, e que ali vai encontrar êsses mil nonaclas cio labutar quoti– diano, a doçado pelas frases entrecortadas dum diálogo sem alinho. Dizer tudo Isto consola-me em extremo, porque nllmento mil es– peranças ele que, hrevemente, Paulino ele Brito h averit cedido à evo– lução e terá vindo fazer parte do grupo em que nós, escritores rea– listas, comhatemos devotadamente pela verdade . Sim, a verdade ! "Hoje em dia a principal qualidade cio roma ncista é o senso real", (3) - disse-o ésse grande atleta que se chama Emílio Zola. ll:le re– fletirá, êle estudará mel110r os g randes e santos Ideais dessa escola tão caluniada peln lmhecllldade madrasta claquêles que dela !alam a esmo, sem a terem estudado convenientemente. E depois, quando houver terminado o seu inquérito e hem compreendido o fim a que ela se propõe chegar, cer to o Ilustre moço não se recusará a a listar -se em suas fileiras vitoriosas. Uma explicação faz-se n ecessária ele minha_ par te. Gosto de frisar êstes pontos, quando prevejo futuras agressoes agarotadas de uma cer ta "coterle" oposicionista. O Naturalismo de que falo e cuja causa eu advogo com todo o a rdor de uma Imensa convicção, não é o pseudo naturalismo ncana lhaclo e in'lerossimll de J ean Rlchepln e de Armand l::!l,·est re. onde só aparece o lado máu da humanidade, mas sim êsse Naturalismo austero, cientifico, imponente, ele Zola e D1wclct, de Fla uber t e cios Goncourts . É o "Naturalismo que faz mover personn– gens reais num melo renl e que dá 110 leitor um pedaço d a vida hu– mana visto através de um temperamento" (4) e 1üio a escola "hre– Jelra ctns memórias ele prostitutas, elas porcarias eróticas" . (5). Pen-
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