Revista da Academia Paraense de Letras 1952 (Janeiro v2 ex2)

'.REVISTA bA ACADEMIA l'ArtAENSE OE LETMS 49 Nascido na terra de Castelar, o grande homem de le– tras, por algum tempo, teve aos ombros a responsabili– dade da direção do consulado de sua pátria, e o governo, certa vez, por vê-lo feliz de viver e envelhecer entre o si– lêncio elos livros, confiou-lhe a orientação da Biblioteca e Arquivo Público da cidade. A Academia Paraense de Letras teve no velho mestre um dos seus valores positivos e aqui ocupou a cadeira n . 3, patrocinada por Acrísio Mota. Do valor e eficiência da sua colaboração a este Silogeu, dizem os anos que aqui passou . Sua palavra fluente, fazendo flutuar neste recin– to a sua cultura polimorfa, ecoou jubilosamen t e ao rece– ber nesta casa o acadêmico Amazonas ele Figueiredo . Sua presen ça na tribuna deste soclalício constituiu ·sempre uma atração para os aman tes das letras . Assim foi quando saudou o recipienclário Eduardo ele Azevedo Ribeiro. Seus discursos foram peças reveladoras de profundos conhecimentos de literatura e de a rte. Mas, um dia, - como é doloroso relembrar ! - o ve– lho preceptor declarou de público a sua r enúncia à imor– talidade, o que n ão teve o beneplácito cios acadêmicos. Sem embargo, firme no seu propósito continuou afastado da Academia. ' O seu afastamento deste Cenáculo, onde foi uma· des– sas criaturas a quem o destino n ão recusou a mercê de cercá-lo de simpatias e admiração unânimes, permiti, se– nhores, dizer-vos h aver sido eu a causa involuntá ria . Os factos são de pouco tempo. Mas a tempestade h averia de passar. E um dia, de– corridos alguns anos, vaga a poltrona de Alvares da Costa e novamen te candidatando-me à Academia, não foi tare– fa difícil reconduzi-lo ao cenáculo dos imortais, embora t udo no cantor de "Selva" fosse como um vulcão. Bem afirmou o padre Dubois : "o coração de Remigio era mais mole do que a cabeça". As suas borrascas sem– pre foram falsas e efêmeras. E o mestre, r etornando ao grêmio que fundar a, pront ificava-se a receber-me n este tabernáculo . E ele, ele facto, ench endo de pompas a noite da minha posse, ilumina ndo com a sua palavra a r efulgir muit o mais que o brilho dos candelabros do Teatro da Paz, pronunciou o seu último discurso neste templo. Toda a sua alma foi presa de um contentamento e, com que indisível alegria, confessou h aver recebido o distintivo da Academia. Aque– la noite - afirmou à família - havia sido a mais bela noite da sua carreira intelectual . Parece que ainda escuto as primeiras palavras do seu discurso : "A poesia é a revelação plástica da sen sibilida– de dos espíritos superiores. Pode-se definir como um prisma da vida interior do artista. É a transmutação dos aspectos da natureza, r evelados através de imagens que o homem inventa para exteriorizar as formas de seus mundos irrevelados". E o emérito companheiro, daí por dian te, integrou-se à nossa vida, comparecendo às reuniões. Vímo-lo, nas comemorações do cinquentenái•io da nossa fundação, no

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