Revista da Academia Paraense de Letras 1952 (Janeiro v2 ex2)

48 REVISTA DA ACADEMIA PARAENSE DE LETRAS Bopp, inteligência fulgurante, ligeiramente entre nós, re– vestido de couraça e de lança em riste, arrojou-se contra o Parnaso marmóreo ào poeta paraense. E o que foi a polêmica travada entre ambos, dizem bem os seus artigos na imprensa. As correntes literárias dividiram-se no apoio aos combatentes, mas Remigio, que jamais deixou de afirmar aquela reforma literária "a bastardia das lite– raturas", clâmide esvoaçando ao falerno, valente como um leão, com a força da sua cultura e as arruas da sua inteligência arremessou-se à arena para levar por terra a fúria do adversário. • Como polemista, também, triçou , gladio com o bri– lhante talento do padre Florencio Dubois e, nos arraiais da língua que constituiu enlevo para Montola e Teodoro Sampaio, esgrimou com Jorge Hurley, quando da substi– tuição do nome da vila do Pinheiro por Icoarací. Vieram-lhe os cabelos brancos ... Era o poente glorio– so do mestre . Não obstante, o poeta singularíssimo lan– çou à publicidade o seu último livro de versos, "Ocaso", sua obra máxima como citaredo, obra vitoriosa pela ele– vação das idéias e dos pensamentos, de rimas simples mas perfumadas e onde a harmonia dos poemas tem um ru– flar de asas e uma doçura de humana filosofia. Quem de perto o conheçeu, sabe o quanto Remigio amou a vida, sabe como o . vate viveu numa palpitante exultação e jovialidade e, por isso, a sua vida, ele mesmo a proclamou cheia de ardência e de mocidade eterna" : "Eu nasci no verão, em pleno estio, quando a terra de flôres se recama e o sol, imenso e criador, inflama o rubro sangue, indômito e bravio. Talvez porisso, em vez do triste frio do velho, sem estímulo e sem chama, meu coração em sonhos se derrama e, na ilusão de moço, eu canto e rio". E embocando a "trompa de cristal" dos seus anseios, no seu profundo amor à vida, exclamou : "Eu não quero morrer ; é cedo ainda. Meu coração é moço, inda estremece, e a mocidade é boa e a vida é linda ... " Já sexagenário, "fatigado caminheiro de tão extensa. larga e rósea estrada", escreveu, cheio de melancolia : "Como é triste o final que já vem perto. Como a saudade do que foi é grande !" Remigio, em "Ocaso", revela-se, entre nós, um dos ma iores poetas, cinzelando à maneira de Laconte, consa– grando-se um aedo de espírito clássico pela cultura admi– rável, pela música das suas estrofes, pelo seu estro e equi– líbrio dos seus hemistíquios, pela potencialidade da art~ e colorido encantado da imaginação , ,)_ [ ...

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