Revista da Academia Paraense de Letras 1952 (Janeiro v2 ex2)

REVISTA DA ACADEMIA PARAENSE DE LETRAS 47 nome. E em "Selva", contemplemos a suave filosofia de Remigio e a pureza da sua fé : "Não me move, meu Deus, para querer-te o excelso paraíso prometido, nem me demove o inferno tão temido para deixar, por isso,. de ofender-te. Tu me comoves, ó meu Deus, ao ver- te pregado numa cruz e escarnecido ; comove-me saber quanto há sofrido nas vis afrontas o teu corpo iner te. Tanto, enfim, teu amor em mim impera que, se nem céu houvesse, eu te adorara, se n ão houvesse inferno, te temera. Nada tens que me dar porque te queira ; pois, se mesmo de t i nada esperara, eu te amara, meu Deus, de igual maneira" . Vive aqui a doçura dos seus ritmos, como se espelha a sua a lma impregnada da bondade que em seus olhos sem– pre se reflet iu. Se a natureza lhe dera uma alma de poeta, seu desejo maior era abrir essa a lma às alegrias da sua musa e, assim, quando o povo brasileiro fest ejou o cen tenário do grito de Pedro I nas ribanceiras do Ipira.nga, num incêndio verme– lho como os cenários do Orien te, Remigio fez despontar na fímbria rutilante do horizon te o "Sol de Out ono", bri– lhante confirmação do seu talento e onde ele se mostra o menestrel sonoro, cantando a vida "imperturbàvelmente den tro do seu sonho" . Na clausura dourada dos dógmas parnasianos, o aedo, numa express2.o de amor, como se estivesse a despetalar rosas e lírios, escreveu para a sua esposa : "Ambos somos de longes, diferentes terras, de idade e gênero distinto. Foi o amor que nos trouxe ; foi o instint o e foram magnetismos e correntes. O mesmo que tu sen tes, também sinto : tristes na dor e no prazer - contentes, quando tu dizes que me odeias, mentes ; e quando eu digo que ti:: odeio, minto". Na lira de Remigio existe algo daquela emotividade de Raul de Leoni. "O trovador feudal, campônio rude", que se dizia, era o na ba bo de emoções, a sonhar a vida e o ideal que ele divisou, tão cheio de luz, como as conste– lações, imergindo-lhe os grandes olhos de iluminado. "Sol de Outono", porque se a castelasse nos canones da arte pura e imperecível, sôbre o seu cantor, recordando aquela fúria dos bá rba ros e visigodos, investiu um legio– nário do movimen to qe r enovação marinetiana. Raul

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