Revista da Academia Paraense de Letras 1952 (Janeiro v2 ex2)

46 REVISTA D A ACADEMIA PARAENSE DE LET1:{A$ v1aJor sedento, sorveu a água cristalina dos princípios bá– sicos do tupi-guarani. Se a sua infância foi uma dedicação aos estudos, se a sua mocidade foi o desdobramento elo seu labor, de disci– plinação literária, imprimindo força e policromia as suas idéias, ornamentando de beleza e cõr a sua forma escor– reita, a sua velhice revestiu-se de pompa, porque na ma– jestade soberba da sua formação estética, dando asas ao pensamento, viveu o perfeito sentido de harmonia, impe– rou a musicalidade embriagante na estrutura de cada ver– so e flutuaram pulcritudes e requintes nos períodos apo– líneos . Remigio Fernandez, em toda a sua existência, como admirável homem de letras, na exuberância formosa do seu est!lo, assemelhou-se a um ourives pacientíssimo, a colocar na sua prosa uma riqueza de adjetivação, a polir cuidadosamente as suas frases, como se fôra um estatuá– rio a cinzelar o mármore de Carrára. Há quatro decênios militando na vida intelectual da Planície, se não afastou daquele aprumo aristocrático e, na sua elegância acadêmica, vimo-lo um nababo semea– dor de ritmos e belezas, a inebriar-nos com a opulência da sua sensibilidade artística e plenitude da sua magnifica expressão verbal. Escritor a extasiar-se na paisagem das épocas que se foram, em suas páginas parece que volitam aquelas remo– tas éras atenienses e, do seu cálamo, onde pompearam a suntuosidade e elegância de Petrõnio, derramava-se aquê– le sol glorioso da Atica. Referindo-se a Ruy, alguém já afirmou que "a sua obra ergue-se aos nossos olhos como um templo". Assim, vista através da sua magnificência e do seu poder de ima– ginação, a obra de Remigio tem a semelhança de um mo– numento. Analisemo-la durante os seus quarenta anos no magistério secundário ; contemplemo-la através da or– questração argentina dos seus versos e admiremo-la entre o esplendor da sua rútila cultura. E para que seja visto como uma das marcantes mentalidades desta terra, tire– mos do silêncio a tradução de "Iracema" para o latim, onde o seu trabalho ressalta maior ao levar para a língua morta os termos indígenas, que em abundância se agasa– lham no esplêndido romance do filho de Messejana. Esse fruto soberbo das suas vigílias há de ficar na galeria imor– redoura das obras monumentais. Sua erudição brotou-lhe da pena o colorido encantado das idéias. Seus versos, cheios da virtude suave da es– pontaneidade, rolavam à flux. E, assim, em homenagem à colônia sírio-libanesa, ao entusiasmo que em seu espí– rito despertaram as poesias daquelas terras orientais, onde o Cedro é símbolo de um povo, Remigio não desmentiu o artista no livro que escreveu sobre Públio Siro. Encantado pelo verde majestoso da floresta, em 1919, 0 antigo seminarista surgiu com o seu livro "Selva", onde os poemas são ruidosos como as abelhas, o qual veio defi– nir a sua personalidade de poeta e encher de louros o seu r

RkJQdWJsaXNoZXIy MjU4NjU0