Revista da Academia Paraense de Letras 1952 (Janeiro v2 ex2)
40 REVISTA DA ACADEMIA PARAENSE DE LETRAS POEMA DA CONSOLAÇÃO Ah se eu fosse recordação do princípio do mundo, e depois me abrigasse na memória eterna do teu destino, continuando a tua vida ! Ah se dêstes olhos que choram tanto o oleiro fizesse um dia a moringa dágua para matar-te a sêde das caminhadas difíceis ! Ah se o longínquo horizonte baixasse todos os dias para trazer-te um pouco do primeiro oxigenio do ar, quando criou-se o mundo ! Ah se a carícia destas pequeninas mãos escravas pudesse ao menos sobreviver na planta dos teus pés de flôr amanhecida ! Ah se eu voltasse por um instante a ser criança como tu para brincar contigo e compreender a intenção do teu brinquedo, filhinho ! Então eu poderia morrer sem a luz do dia e sem a música dos longes que busco para consolar esta miserável solidão dos sentidos ! ELEGIA A TARDE Tarde perdida no incompreensível ditoso anseio. Rosa queimada, transfigurada, que alguem mandou e não veio .. Tarde vivida na doce espera do riso breve feito de neve na brasa ruiva, lembras a noite que o sonho gera ! Tarde marcada de sons fatais que se procuram mas que não juram senão palavras nuas de gestos intencionais. ó pobre tarde do espelho baço no verso ausente que o rastro quente anina o vento no teu regaço ! dos pés da noite
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