Revista da Academia Paraense de Letras 1952 (Janeiro v2 ex2)

REVISTA DA ACADEMIA PARAENSE DE LETRAS 39 UM POEMA Ao doce balanço da estrela cativa inclina-se o céu. Da estrela que tece no crivo do tempo a renda macia do silêncio. Silêncio que vem na ponta dos pés para a ponta dos meus dedos solitários . E eu não canto e não falo. E não me submeto, humilde, pequenina e sem amparo, a este convencional silêncio, sem a memória da tranquilidade. No ar , o desesp ero do mundo recuando no tempo os companheiros . Farrapo de nuvem que o ven to não ajuda, no âmago do céu fatigado, é este desejo inusitado que sobe do fundo do lago do meu pensamento para a neblina que anina os rochedos, onde o mar bate, bate, bate, à maneira de quem ama inutilmente, sabendo que não deve amar! TUMULTO Onde estão as dunas de areia quente que em seu corpo cativo cantaram rolando a canção desaparecida no caminho ? Onde é que estão as águas ·chorando no vento frio da lua cheia a sorte das madl·ugadas no inverno ? A noite negra, e magra, e frenética açoita os pescadores que amam ao longe do mar! Não há estradas, não h á vontade, não h á fôrças. E os pés que dançavam sobre o perigo perderam a memória do passo no bailado mudo da sentida ausência. Morreram os acordes da música antiga, 0,·ocando a pureza das mãos preciosas. Ninguem fala, ninguem pensa, ninguem ouve. Só o semblante do desconhecido poeta ao longe espera !

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