Revista da Academia Paraense de Letras 1952 (Janeiro v2 ex2)

!36 REVISTA DA ACADEMIA PARAENSE DE LETRAS tinha o poder de manter-me viva n a mente, a nossa João Alfredo, não só por ser a principal via comercial da cida– de, mas também por parecer-me que ambas haviam sido traçadas pelo mesmo urbanista dantanho. A nevada prejudicava o movimento habitual da hora, mas nem por isso furtava-me o prazer de contemplar os delicados cromos que retratavam as tote, as sartinc de Vercelli, dignas representantes das sartine d'Italia, a quem Guido da Veron:l tantas lettere d'amorc dedicou. Fecha– dos os magazins, os ateliers, os escritórios, os consultórios, abandonadas as máquinas de costurar e de escrever, a gozar uma liberdade tão fugaz, rápidas, deslizavam elas para os lares, por entre os flocos de neve a tombar, agasa– lhadas em mantcaux de inverno que lhes cinzelavam deli– ciosamente as sílhuetas. Ocorreu-me, em certo instante, quão belos seriam o Largo de Batista Campos e o Bosque Rodrigues Alves re– vestidos de nívea roupagem e intimamente deplorei a fa– talidade que nunca me permitirá ver a minha Belém, sob flocos de neve a tombar, como já vira Pavia, Novara, Do– modossola, Friburgo, Mon treux, Vevey e Lausanne. E a capital valdense passou a dominar-me inteira– mente o pensamento, pois Lausanne é a cidade que mais eu quero, depois de Belém, porque foi ela que, ao ver-me sofrer a acerba saudade de todos os entes que, então, eu muito estremecia, de todos êstes recantos, de tudo isto aqui que nunca, antes, eu percebera t anto amar, desven– dou-me em tôda a sua sublimidade, o significado da pa– lavra Pátria, porque foi em Lausanne, n ão sei se feliz ou infelizmente, onde aprendi que vem a ser uma verdadeira democracia. E quem diz Lausanne, diz Ouchy, diz Lé– man, porquanto a n inguém é possível divorciar a cidade de seu lindo e mignon põrto sôbre o Lacus Lausannensis dos antigos romanos, o lago a que os genebreses de hoje, orgulhosamente denominam Lago de Genebra . Não só por mim, entretanto, Lausanne é quericl~, quer-lhe bem o mundo inteiro, desde Gilda até os mais insignes homens de ciência, de letras, de artes ou de es– tado. Peçam-lhe asilo, os oprimidos, meios de prover a subsistência, os espoliados, a restauração da saúde, os c9mbalidos, repouso ou distração, os neurosados, instru– çao, os ambiciosos ele saber, sede para seus congressos e conferências, os que desejam discutir com liberdade e tranquilidade, problemas de otorrinolaringologia ou casos internacionais intrincados e nunca serão constrangidos a desistir de suas aspirações, visto como pa ra La usanne e seu povo, êsse povo cujo número de analfabetos tende a n ivelar-se com o de recém-nascidos, é questão de honra acolher fraternalmente e tudo facilitar aos que necessi– tam de qualquer auxílio seu . Passar por Lausanne sem experimen tar o fascínio do Léman e do pays vauclois é inconcebível, os visitantes mais ilustres, entusiàsticamente o proclamam. Para Voltaire, que residiu cm Lausanne na segunda metade do século 18, era o cantão valdense "riant et libre, le plus beau de la terre, ce charmant Pays de Vaud qui ).

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