Revista da Academia Paraense de Letras 1952 (Janeiro v2 ex2)

I [ REVISTA DA ACADEMIA PARAENSE DE LETRAS 35 Em chegando à confluência do Viale Garibaldi com o Corso Carlo Alberto, na Piazza Torino, instalei-me confor– tàvelmente, junto à vidra ça, bem próximo a um aquece– dor, no restaurante ela esquina e pedi um brulé que sorvi a pequenos goles, para nada perder da sensação agradá– vel que nos proporciona o vinho quente, em dia de rigo– roso inverno. Dessarte, ao mesmo tempo que sentia o bem estar ir-me impregnando o organismo, de proche en }lroche, até assenhorear-se dêle todo, podia contemplar o espetáculo que me era tan to Jliacevole - uma cidade sob flocos de neve a tombar. A minha frente, em linha reta para a estação ferro– viária, seguia o Viale Garibaldi, ar téria residencial onde as construções modernas mesclavam-se com as antigas, tal como acontece atualmente em nossa Cidade Velha. Era o Viale uma bonita avenida, bastante larga e di– vidida em três faixas, as duas laterais pavimen tadas e a central de chão nu, flanqueada por dois renques de so– berbos madeiros que me deixavam encan tado, fôsse qual fôsse a estação em que os observasse. Do pôsto onde me encontrava, eu já os vira, a maneira de adolescentes estuantes de vida, r amos orgulhosamente engalanados por inumeráveis brotos, a rebentar em ten– ras. eritrofiladas folhinhas, em mimosas, vistosamente co– lori.das florinhas e depois, como que adultos, copas cheias a emaranh ar-se, n a estrutura ção da magnífica abóbada que encimava a majestosa galeria natural. Advindo o outono, porém, a clorofila desaparecia , deixando domi– nante a xantofila, o súber surgia nos pecíolos, impedindo a circulação da seiva, as folhas desprendiam-se, acumu– la ndo-se por terra e as galhadas, inteiramente despidas e alevantadas, imploravam a lgo que somente no inverno eu saberia o que era. · Então, os céus pareciam escutar as mudas súplicas e c_obriam aquelas árvores com flocos de neve que, a prin– cípio, pendiam-lhes dos ramos, como se ninhos fôram de nova espécie de guaxes, pois alvos assim, eu nunca os vi em minha t erra. Instantes após, entretanto, se os japis, iludidos também, buscassem os abrigos que a natureza si– mulava oferecer-lhes, não mais os encontr ariam , t rans– mudado que se haveriam em fantásticos estalactites, a desfazer-se aqui, para formar-se mais ali. A cada esta– lactite desfeito, porém, correspondia a formação de um pequeno estalagmite que, desapa recendo, concorria para adensar a pavimentação hibernal da alameda. Em certas ocasiões, principalmente a noite, tão espêsso se tornava o níveo estrato, que ninguém se aventuraria a trilhar a fai– xa central do Viale, pois teria as pernas engolidas quase até os joelhos. ' Outro tanto não sucedia com o Corso Carlo Alberto que, sendo o trec~o da rodov~a Turim - Milão, quando esta atravessa ':ercelh, tinha trafego r elativamente intenso, mesmo no mverno . O Corso, rua que eu percorria diària– mente, pelo menos quatro vezes, estendia-se a minha di– reita, desde a Piazza Toríno at é a ponte sôbre o Sésia e

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