Revista da Academia Paraense de Letras 1952 (Janeiro v2 ex2)

REVISTA DÂ AéADEMIA PARAENSE DE LETRAS Conta-se• apenas que, de uma feita, o encontrou em uma reunião social, conversando animadamente com o filho a quem julgou um moço muito inteligente. Logo de– pois, advertiram-no que o moço com quem conversára era seu filho, tendo respondido : "Ah ! j' en suis bien aise". Mais tarde, de novo encontrou o filho em casa de mon– sieur Dupin, doutor pela Sorbone, porém não mais o reco– nheceu. É notável, pois, essa frieza, essa ausência de senti– mentos dos mais naturais em La Fontaine, enquanto· que, de outra vez, sabendo que o convento dos agostinianos es– tava sendo atacado correu apressadamente, replicando a um amigo que o interrogára: "Je vais voir tuer les au– gustins", como se fosse isso a cousâ mais natural dêste mundo. Aliás, ouvira, em certa ocasião, na casa de Boileau, onde se encontravam vários homens de letras, inclusive Racine, tratar de S. Agostinho com o respeito e admiração que a todos merece o Glorioso Santo, quando, parecendo interromper um profundo devaneio, aparteia bruscamente La Fontaine : "Cryez-vous que Saint Augustin eut autant d' esprit que Rabelais ?" - o que teve como resposta acri– moniosa a seguinte advertência de Boileau : "Prenez garde, Mr. de La Fontaine, vous avez mis un de vos bas à l' envers", advertência que se fundamentava num fato real. Um dos traços mais característicos do seu caráter ori– ginalíssimo foi êsse desprêzo pelas exterioridades, mani– festado principalmente pela ausência de atividade prag– mática, que o tornava um doméstico desinteressado e pouco interessante de madame de La Sabliére, a qual o acolheu generosamente mais por espírito de caridade do que propriamente pelos seus altos méritos de inteli– gência e caráter. Despedindo certa vez todos os seus em– pregados e servidores, d izia a magnâ nima senhora: "Je n'ai gardé avec mei que mes trois animaux: mon chien, mon chat et mon La Fontaine". :tle próprio nos dá uma sintese de sua vida, compondo o seu epitáfio : Jean s'en alia comme il était venu; Mangeant son fonds aprés le revenu. ~, II crut les biens chose peu nécessaire ; Mais pour son temps, bien le sut dépenser : Dex parts en fit, dont il voulut passer. L' une á dormir et l'autre â ne rien faire. Houve, entretanto, um momento em que o insigne fa– bulista sentiu o aguilhão da glória espicaçar-lhe a alma : foi quando, aos 62 anos, disputou uma cadeira na Academia Francesa, por morte de Colbert, tendo, por opositor o seu amigo Boileau. La Fontaine venceu por 16 votos contra 7, sendo porém vetada a sua entrada por Luiz XIV que mui– to se interessava pelo seu opositor, ao passo que guardava profunda mágua do célebre poeta e moralista, tão mereci– damente aceito entre os maiores das letras francesas. Só de– pois de 6 meses, com a morte de Mr. de Bezons e a eleição de Boileau para o substituir, é que La Fontaine tomou posse da sua cadeira no eminente sodalício, por entre os aplausos sinceros de seus pares, isto a 2 de maio de 1864. Morreu a 13 de abril de 1695, Foi enterrado perto do

RkJQdWJsaXNoZXIy MjU4NjU0