Revista da Academia Paraense de Letras 1952 (Janeiro v2 ex2)

REVISTA DA ACADEMIA PARAENSE DE LETRAS ~1 tando isso, e vendo que o filho não tinha disposição para o trabalho ativo, passou-lhe o lugar que êle próprio exercia de "maitre des eaux-et-forêta". La Fontaine r ecebeu o em- 1>rêgo e a mulher com a maior indiferença, tornando-se mais tarde um funcionário negligente e um marido desinte– ressante. Dentro de pouco tempo, estava afastado de um e outro dos encargos que tomara. Ficara-lhe, entretanto, um filho do matrimônio com Marie Héricart. Pouco a pouco, se foi tornando célebre a sua fama, so– bretudo como fabulista. Do prefácio da pequena edição de suas fábulas editada no ano de 1830, em Tours, consta a sen– t en ça seguinte que é lapidar, retratando La Fontaine: "Le plus français de nos poetas, celui que berce notre enfance e dont nous suçons les fables avec le lait". É mesmo um dos maiores fabulistas mundiais, inte– grando a t riade famosa; Esopo-Fedro-La Fontaine. Asse– melha-se a Fedro não somente no estilo, mas também na substância, que constitui a matéria prima de suas fábulas imortais. Há entretanto, entre êles, traços diferenciais bem distintos : Fedro, escravo do imperador Augusto, se bem que cêdo alforriado, permanece sempre um oprimido, re– calcado contra as injustiças sociais. E porisso, tem como objetivo das suas fábulas a revol– ta estampada no subconsciente. La Fontaine também ataca, porém com superioridade notável. O apólogo do francês é uma comédia risonha de quem procura corrigir os costu– mes rindo e encantando, ao contrário do escritor-latino cujas sátiras deixam lêr nas entrelinhas desejos de vin– gança . La Fontaine possui a graça gauleza que não ocorre em Fedro ; a verdade zoológica, pois os animais falam e agem de acôrdo com a respectivas naturezas, o que nem semp re se encontra nas fábulas do escritor latino. La Fontaine su– pera a inda pela finura de observação e pela ironia satâni– ca tão de acôrdo com o seu temperamento introvertido e esquizoide, mas observador e inteligente. La Fontaine, completamente desinteressado do mundo exterior não tinha vivo o sentimento da atividade. Di– vorciado dà mulher, só a procurava para tratar de assun– tos que se relacionavam com seus interêsses econômicos. Concluídos êsses, não mais apareceu. Influenciado por um amigo, foi um dia visitá-la pela manhã. Em lá chegar..do perguntou a uma empregada que veio recebê-lo como ia passando madame La Fontaine e a empregada respondeu : "Vai bem, e com bôa saúde". . Voltou então ao amigo para dizer do sucesso de sua caminhada. "Je n'ai point vu ma femme, elle était au salut". Interessante porém, é que, nada obstante a sua indi– fer ença pela mulher, os seus amigos foram um dia surpre– endidos por um fato original, pois convidou um velho mi– litar chamado Poignant a se bater com êle em duelo por motivos conjugais. Ao chegar entretanto, ao lugar do duelo, acompanhado das testemunhas, havia esquecido com- 11letamente o motivo da querela. Do filho de seu matrimô– nio, sabe-se que foi educado por Maucroix e depois esteve sob a t utela do presidente de Harlay, que o eduªOU e geriu o seu patrimônio. Dêle não mais se lembrou Li Fontaine,

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