Revista da Academia Paraense de Letras 1952 (Janeiro v2 ex2)

j " REVISTA DA ACADEMIA PARAENSE DE LETRAS 19 II A UM VELHO POETA Lendo-te os olhos de ternura, onde arde a ânsia que te atormenta e transfigura, vejo em penumbras, como um fim de tarde, teu sonho adolescente de ventura. A alma lutas em vão porque não guarde do derrotado amor a chaga escura ... E hás de escutar, sofrendo, o pranto e o alarde dessa velha saudade, amarga e pura ! Entre silêncios largos e o alvorôço da saudade, acordando aguda e louca, sentes que o coração é sempre moço. E o velho amor, desperto em flamas novas, sobe-te aos olhos, canta-te na boca, reflorescido em lágrimas e trovas ... III ENCRUZILHADA Envelhecidos ambos ! E à ironia dêste encontro o destino se compraz em reviver, por um momento, um dia que nos ficou, de há muito, para atrás ... Sino de morta igreja, que dormia sem pensar que êle batesse mais, eis nosso coração numa agonia pulsando agora, enfermo, antigos ais. Nem sabemos, no susto, inesperado mas talvez num desejo pretendido, se dói mais êste instante que o passado . Nem do sonho o que mais há de pungir: se a tristeza de o haver interrompido ou a covardia parn o prosseguir. . .

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