Revista da Academia Paraense de Letras 1952 (Janeiro v2 ex2)

184 REVISTA DA ACADEMIA PARAENSE DE LETRAS NAPOLEÃO LAUREANO Na sessão realizada pela Academia no dia 3 de j unho de 1951, o acad êmico Georgenor Franco propoz e foi unânimemente a pro– vada pelo plenário, um voto de pesar pelo falecimento do Dr. Na– poleão L aureano ,O acadêrni"o Ernesto Cruz, fazendo uma declaração de voto, leu o seguinte dis.::.,,,,v . Sr. Presidente. Prezados confrades. Há naquêle livro admirável de ensinamentos, que ê a "Imita– ção de Cris to", esta advertência a todos os homens : "Não confies nem te es tribes na cana que o ve nto agita : porque tóda a carne é como o feno, e tôda a sua glória cairá como flor do feno". Durante v ários meses os brasileiros vieran1 acompanhando, emo– cionados, diante de t a nta resignação, o drama do canceroso Nape– leão Laureano. O médico para ibano foi, na s ua desdita, o filho que Deus esco, lheu para dar aos se us semelhantes o exemplo de quanto é imensa a Fé, e de quanto pode o espírito para alivia r o corpo das dores que o maltratam. Nêsses meses de atrozes sofrimentos o dr. Laureano esteve com o seu pe nsamento preso ao desejo de mitigar o sofrimento alheio . O combate ao cânce r, que promoveu em grande escala, com o propósito de livrar m ilhares de vit imas do mal implacável, já que êle próprio e ra um conde nado à morte, transformou-o cm símbolo da dedicação e do amor ao próximo . Não foi homem que se estribasse na cana que o vento agita, para não cair como flor do feno . A s ua obra, ime nsa e duradoura, é dessas que o tempo não desgasta, antes reverência pelos seus fundamentos a ltruíst icos e huinanos . Dura nte o tempo em que o médico-múr tir este ndeu as m ãos para pedir em proveito dos cancerosos de todo o Brasil, não teve como Diogenes, de e nfrentar as estátuas frias e indiferentes, para se acostumar á recusa . túni~ua nto pediu, qua nto recebeu para os se us irmãos de infor- A. sua dor comovia os corações. Mãos ajuntavam-se, diante dos oratór ios de todos os lares, para implora r a clemê ncia divina. E ra a solidariedade ela família brasileira ii. obra benemérita do d r. Napoleão La ureano, e a p rova de pesar coletivo pelo sofri– mento que o mortificava. O que, porén1, nini 1 r ·cr1novcu nos seus últimos dias ele vida foi aquê le instante, c-1-n l dia:ltc da Viri;cin elo Carn10, o dr. Lau- reano , voz quase sutni<.la, 1 , ni?.nndo ainda teve forças para ped ir : "Eu, m iserável pecador, ,.., 1;1oro a Nossa Sen hora do Carmo fór ças para resis tir ao sofritncnto, 1csirtnoçfio na hora en1 que n n1ort.e ameaça separa r-me de minha esposa, porque de i a Deus ludo o que lhe podia oferecer. K-,pcro, com con fiança, ser a lc ndiclo, e t enho a espera nça de recuperar a saúde, pa ra c ria r a m in ha fi– n ha e pra ticar o bem comum·· . E , daí a h oras, fech ava os seus olhos à luz que ilum ina a ter ra, pois o seu espirito, qual imenso cirio, terá ele ilum inar, ele agora por diante , os discipulos que deixou na cruzada cristã de curar os ,doeqtes e de confortar os bome11s de pouca Fé".

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