Revista da Academia Paraense de Letras 1952 (Janeiro v2 ex2)

• 180 REVISTA DA ACADEMIA PARAENSE DE LETRAS Assim como Ruy Barbosa disse de José Bonifácio -. fulgu– rando embora as centelhas de suas cerebrações cm ambiente e época; difercnÍ.es, - Acllino ele Leão também uu_dou con:i ~ socic-– dade do seu tem po pelos órgãos de relação ma is sens1ve1s que ligam o homem à vida intelectual, na civilização coetân.ea ", p elo ideal, na ciência; pela eloquência, na tribuna; pc}~ mocidade, na cátedra; 11cla controversia, na imprensa ; pela pollttca, no p arla– n1ento. Quem não conheceu, no Pará, o médico Acilino de Leão, ~ cli– nico solícito e amii,o, d istribuindo, incansavelmente, numa atit ude b eneditina, entre ricos e pobres, os frutos do seu fecundo saber, sacerdote de Hipócrates a lenir os sofrimentos f ísicos? Devotado à ciência n1étlica e considerado uma das maiores cul~ turas no ramo, em nossa tcrr'a, nem por tal deixou m enor lnilho às demais atividades intelectuais. Foi um orador primoroso. Dotado de uma elevação de espírito acima dos sucessos e preconceitos, a sua oratoria, vasa.da em estilo terso, prendia pela música e pela essencia, carreando nos ensina– mentos, con stantemente, o h umor delicado, muito do seu tempe– ramento, ou a sátira elegante, que ut ilizava com m estria. Na Aca– demia P araense de Letras, que o teve entre seus fundadores, e ex– poente, obteve o maior galardão n esse setor, elevado pelos seus pares â P residência de Honra. Na cáted ra revelou-se, ainda, o ntestre. Estudioso infatig(Lvcl. n ão se atrazava no que de mais mode rno houvesse sido publicado, uão apenas na ciência que abraçara porém em todos os â n gulos elo conhecimento. As suas aulas P.as 'Faculdades de Medicina e de Direito eram aguardadas com interêssc e assistidas sob religiosa ':'t':nção. Brilhantes sempre, qualquer que fosse o seu estado de animo. E da cátedra mostrou a grandeza de uma alma pura e estóica qua.ndo, certo do fim, se despede dos seus discípulos numa derra– deira aula ~n~ qu.e é êlc, ao mesmo tempo, o pacicnt~ perdido e o J,rofessor-medico im potente ante a natureza e a i;rav1dade do mal, n ão querendo perder a o.portunidadc de ministrar a última e vívida lição. Foi o seu canto de cisne de m aneira comovente descrito no est ilo impressionista do ilustre ~cadêmico Romeu Mariz, cm m emo- rável d\scurs'? proferido no Silogeu paraensc. . . . . O . Jorn_ahsta marcou éjloca, cm fase áurea da vida h tcraria local, m.clumdo-sc mima brilhante geração de moços de talento. Na imprensa, militou em todos os sentidos com desta<1ue, quer despetalando rosas ou vibrando O florête com músculos de aço. Não se escapou, igual a José ..Bonifácio, o parlamento: Como re presentante do povo 1>a raense foi eleito deputado federal a Cons– t,_t uinte d e 1934. Militante do Partido Social Democrático, nas clei– çoe.s ele 1947, esteve indicado e eleito suplente do senador Augusto J\lc1ra. R':tornaria à Câmara nas últimas eleições, não lhe hou vesse a Parca inexorável cortado O fio de um destino ele realizações. Entretanto, ])ara m im, além dos órgãos de r cl:~ção cm fJ U C lidou con_1 a~ soci~dadc, na . fo rma que expus, 0 que mais o_ ,~traiu, o que 1na1s fe--lo .1mpor--sc a. veneração coletiva, foi, sein du'!1da, a_ ex~re• ma human1d~dc dos seus atos, que espargiu a ma.nchc1as, po is so o amor constro1 J)ara a eternidade. Senhora : . ~. a ~sim que vemos, no Amapá , 0 vosso pranteado esposo, êssc JCqu,tiba frondoso, vencedor em tantas e t remendas j ustas com a Morte que, ])ara tombá-lo, houve de atacá-lo insidiosa e traiçoei– ramente. . E m ais. Macapâ, a capital do Território, se orgulha da liaver s1clo o berço .<~e varão tão ilustre e digno. _ O _dr· Ac1l!no de Leão teve sempre I\ilacapú no coraça_o, e o seu procc_dimcnto isso o atesta. Por mais su gestivo, bas t.a. citar a sua e'!co.lha dos .n'?mes do 11rofcssor Joaquim Francisco de Mendonça J~mor, o Muc10 J_avrot das lides jornalísticas, e do dr. Alexand re V.tz Tavares, médico e educador clois macapacnses de nascimento, P~ ra seus Patro nos, res1lcctivam~ntc na Academia Paraensc do Letras e no Instituto l'araense de flistória da Medicina. Interes. s ailo pelo 1>rogresso da unidade v izinha, t rocava, quando OllOrtuno, ideias e impressões com O Governado r J a nari Nunes, estando a_ par ~lo que ali ocorria. Não foi possível, sõmcnt.c, Jev.i-Io a u~1a . v1s1ta,_ 1g~noro se por iwupar•se à forte cm oçiio de rever o ambiente cl_a 111.f~ncia, ou se J>or evita r a homcnag-cm consag- radora que sabJa m ev1tavel ante a insistência dos convites de amigos velllos e novo~, o que iria fer ir-lhe a rcconllccicla modcsua.

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