Revista da Academia Paraense de Letras 1952 (Janeiro v2 ex2)

REVISTA DA ACADEMIA PARAENSE DE LETRAS 173 fadiga , a atonia, a iuaptência para o trab alho, essa mesma dignidade, perde-a. O que fica muita vez dum grande espírito ? - Um m ercenário. Não ! Literatura e Arte não são profissões, e só o podem ser com a condição de serem maravilhosas. Como profissões medíocres. são mortais. Abreviam a existência e despojam o homem do orgulho e da coragem. Quereis fazer Literatura ? Quereis fazer Arte ? Enriquecei. Os 1ncios não Jlrccisam ser honestos. Lit eratura e Arte são ocupações independentes. Recolhe, poeta, recolhe os autógrafos do teu livro e incinera-os . Se vieres à publicidade te indispõe com o meio, com os homens, com a sociedade. Põe ao om bro magriço uma sacola e vai mondar a terra do teu berço. Lá já chove. Rasga o ventre da terra e planta batatas; ou p ega duma jangada e faz-te ao mar alto, averdiscado, assoalhan– te, os verdes mares bravios da tua terra, que dorme à borda dum v ulcão de luz. Vai ser pescador, poeta. Ao contrário, morrerás de inanição, de esgotamento, de miséria, r oído de fome. Villemessant, o antropófago fundador do Figaro, ainda vive no estu fo moral dos proprietá rios das gazetas. Êles devoram-te a m assa encefálica, roem-te os nervos, as energias, a mocidade , e atiram-te à rua como o mais dcshumano carroceiro faz ao bucéfalo que o serviu : é que o a nimal está velho, cansado. imprestável, em condições de ser vir de pasto à i;ula voraz dos urubús.

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