Revista da Academia Paraense de Letras 1952 (Janeiro v2 ex2)

172 REVIST A DA A CADEMIA P ARAENSE DE LE T RAS Fazer inteligência, a rtes, literat u ra, é necessário fazer civilização. Q culto do Espírito e d o B elo só o t êm os povos excessivam en te civi– liza dos, e só podem r e putar-se civilizados a quêles q ue atingiram uniformemente um a lto n ível intelectua l. Só êsse s sabem compreen– d e r o gênio e recom11ensá-lo. Com efeito, o q ue s ign ifica fazer obra d e inteligência para uma socieda de inculta ? Falir, inevit àvelmente. Ê a d e rrota do esp írito. Nós nã o somos a r tistas. Na nossa raça o gôst o é uma singula ri– d a d e. Por um m a ravilhoso p r ivilégio só a êles concedido é que tive– mos um Pedro Américo, Ca rlos Gom es e Euclides da Cunha, organi– zações m o lecularinentc artísticas. Ao lado d êsses tudo é barba rie, imperfeiçã o, insuficiência, m áu gôsto. Os homens de letras no Bra sil, o poeta, o a r tista, estão portan to destin ados a uma v ida sem r emune ração, e a um fim triste, a pós uma carreira de t r a ba lhos infecundos. A arte, cm nosso me io, predestina o homem pa r a o infortúnio. A a fetação é própria dos a r tistas. Os nossos não a p resenta m ex terio ridades berr ant es. Não se aprumam , não erg uem a cabeça , n ão a gitam os braços . Vivem m etidos consigo. Deixam-se conduzir po r si m esmos. Ê a lg uém que o corpo leva. Dirigir-lhes a pala vra, é deso rientá-los. Ressen tem-se do con– tacto dos hom ens, com o as árvores do contacto do v ento. Escondem a sua m isa ntropia como se esconde duma inesper ad a visita um casa– co velho esquecido nas costas duma cad eir a , e todos êl es são per– turbação. Falam baixo, n ão gcsticulan1, e uma vez ou outra levantam a cabeça, velad a por um chapéu crivado de goteiras, e é ve r-lhes o rosto onde brilham dois olhos pisa dos. Todos êles t êm a ca beça soturna, a que é v ulgar chamar-se ca– beça triste, porque d ir-se-ia mover em-se a o embalo do pen sam ento e do sonho. Sem cu sto se descobre c1ue a sua t risteza, a ssim a do seu sem– blante pálido, como a das suas pá lidas palavra s se cham a melancolia. Se os celtas sobrevivessem se ria m assim. I sto quanto à literatura e às artes. Agor a voltem os o olhar para o jorna lista. - "!Ue vemos º? Um homem a ta r e fa d o, . en t reg ue ao lufa-lufa do seu labor quo– tidiano, m a l dormido, entreg ue de corpo e alma ao fait-dive rs, empe nhado em a rrancar uma soma exorbita nte d e emoções a todos o, sucessos, indistintamente. Êle é a pontua lida d e, a fidelida d e, a concisão. O povo q u er idéias, sensações, fat os. Quer saber o que se 11assa, na medida da sua curiosidade. O seu m icrocosmo é o seu bairro, e o jornal é que regista a d esordem na taberna, à esquina, o d esa stre na bestega, o esmagam ento, dum filho do vizinho, por um automóvel arreliado, o infanticídio, o a s– sassinato, o roubo, o e sc:1ndalo, o adultério, o suicídio. O jornal é o se u a nima togra fo. f:le que r ver r eproduzidas grafi– cam en te tõdas a s celeuma s que se d ão n a so cieda d e. Fatal d est ino o dos hom en s de espírito condenad os a v iver da pena ! A ativ ida de do e spírito nã o po de - isto é a verda d e - exer– ~er-se sob a form a d e p rofissã o. O es11írito é libérrimo, a p r ofissão e uma cla u sura ; o espírito é origina l, a pro fissão é sediça ; o espí– rito é v á rio, a profissão é lnalteráveJ ; o espirito indica libe rdade , a profissão indica escravidão ; o espírito indica voluntarieda de , a pro fissão indica disciphna . É n ecessário q ue o espírito sej a vigoroso. A fad iga intelectual cona uz à 1mpotén cia . A im11otência intelec. tual à q ueaa do m a is alto org ulho d o hom em , que é a sua ihte– llgência. Troca r a inteligên cia por m oeda é fazer um m ercado que di– minui a dig nida d e da inte1igéncia. Pen se-se ai;or a numa profissão c1ue nã o paga e q ue ob r iga o homem q ue a exer ce a multiplica r-se, desdobrar -se pa ra viver. Por q u a ntos anos êlc será capaz d êsse exaustivo e sforço ? Êle te r á i;onhos d e B eleza, d e Per feiçã o ... O espírito é ambicioso como um burgu ês, - que r as mais alta s glórias e a s m ais elevad as r ecompen sas. Com o r ealizá-las ? Em que do ces vagares ? Em q ue len ta s m e ditações? Em q ue preguiçosos ext a ssc s ? A p rofissão t em pressa, tem vertigen s, ambições e n e– v roses. Empurra-o, sacode-o, desperta-o, acossa-o do seu sonho. Existe, porém, a d ign idade da sua arte, as exigências d a sua e stesia. ~ 11reciso r espeitá-las. Como ? Qua ndo • intervem a insu bjugável

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