Revista da Academia Paraense de Letras 1952 (Janeiro v2 ex2)

REVISTA DA ACADEMIA P ARÁENSE DE LETRAS Í71 HOMENS DE LETRAS De MEDEIROS LIMA ROCHA MOREIRA, um dos novos de valor autêntico, berrou à publicidade, pelas colunas da Imprensa, que brevemente nos dará um livro de v ersos em que o poeta canta a terra cearense. Faz mal o Rocha Moreira. O poeta é uma vitima da Incompre– ensão do seu tempo. Vegeta numa existência m edlocre. Contra êle existe um enorme concurso de circunstâncias hostis. É um profissional miserável, que por um mãu destino ou máu sestro acaba sempre na miséria. Luta dia a dia, braço a braço com o problema do pão. Dentre os m ais Infatigáveis nenhum o tem ga• rantido. E, slstemàticamente, ao pêso desta horrível apreensão, que o poeta entrega ao público as suas obras. O que podem ser elas ? Escrever é fazer arte. Fazer arte é ter fé, disse alguém. E n ecessário desejar ardente– mente atingir alguma cousa J>a ra realizar pela pena, pelo escopo, a obra de arte. Por outro lado, o estimulo da fé é a consciência da solidariedade. Como se manifesta a solidariedade do espírito literário e artís– tico em Belém ? P ela n egação, pela Indife rença. Condenando os seus homens de letras, os seus artistas à medio– cridade, à miséria, a sociedade r-ega a sobera nia do espírito literá– rio e artlstico, e aqui temos o homem de arte numa situação extra– soclal, um e outro declassés. Na verdade, os homen s de letras no Brasil não constituem uma classe. Nem a sociedade nem o Estado se preocupam com êles, sequer para esmagar sob o pêso duma nova contribuição. A obra dêsses homens só multo excepcionalmente pode ter qualquer relação com o seu tempo e com o seu m elo, se nem um nem outro a solicitem e antes patentemente a r eprovam. Ela não reflete nenhum dos aspéctos da vida nacional, n ão traduz as nossas Inquietações, não exprime os nossos protestos, n ão assinala urna só das nossas esperanças. Vaga pelos Ideais que estão em voga no sentim ento e na literatura universais. li: que na ausência de tôda a solidariedade os homens de letras, corno todo o gênero de artistas, poetas, pintores, escultores, ficam apenas sendo profissionais secos e estéreis. Depois a vida literária e artística supõe urna vida cerebral In– t en síssima . O homem votado à sua obra não pode ter outra preo– cupação que não seja realizá-la. Tudo quanto o dlstrála dêste em– penho não ter por efeito sen ão destrui-lo porque a gestação da obra de arte é um mistério tão delicado corno a gestação dum ser. O conflito dos lnterêsses do espírito com os interesses do la r é uma cousa cruel. A obra de arte é caprichosa e lenta. Aa auas responsabilidades são pontuais e urgentes. Em vão êle busca fazer um sacrifício heróico, que nenhum he– rolsmo Iguala ! - de se entregar à sua arte. A arte é uma amante absorvente que reclama dos seu s o corpo e a alma. E êle não lhe pe rtence. Não está na serenidade paradlslaca do seu dominlo, mas; no túmulo da vida, que o sacode, que o empurra, e lhe diz com fe– rocidade e Império : Amanhã, o pão ! Depois, o aluguél da casa! E o que os aguarda ? A morte pela exaustão ! Sobrevém um doloroso cansaço, e a mais bela forma da ativi– dade humana a pa rece ao hom em de espírito como a mais dura das condenações. Resigna-se, curva a cabeça, curva os ombros, faz o sacrifício dos seus sonhos, da sua glória, e febrilmente, para não perder tem– po, a tira ao público, no desespêro e no desdém da sua condição, as últimas fezes da sua Inteligência dilacerada, desaparecendo da vida sob o golpe cruel duma Imerecida Indigência. · A sociedade brasileira não é mais avessa ao reconhecimento do gênio do que as sociedades cultas que o premiam até às mãxlmas com pensações. o que sucede - e tal a única razão do desastre daa artes e das letras, é q.ue não t emos cultpra. Somos umM b es~ai :

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