Revista da Academia Paraense de Letras 1952 (Janeiro v2 ex2)

1. -l'tEVISTA DA ACADEMIA PARAENSE DE LETRAS ·15 que certas partes vão tendendo, pelo princ1p10 da divisão do trabalho, a se especializar nesta ou naquela propriedade, de maneira a constituir as funções. Destas, as de relação são as mais alevantadas e mal se concebe, senão por acurado estudo, que as funções psiquicas do homem - a sua inteli– gência, a sua sensibilidade, a sua vontade - estejam em germem numa partícula insignificante de matéria viva, qual o óvulo fecundo. O que se pode dizer é que a vida celular, tanto duma celula secretória, ou conjuntiva, como duma fibra muscular, ou dum neurônio, é sempre a mesma na sua manifestação intrínseca, e se caracteriza por êsse movimento geral e contínuo de assimilação e de desassimilação. Comte, com a sua perspicácia, antes da contradita de Spenéer, já a havia previsto e rebatido, ao asseveràr que, na imensa maioria dos seres, a vida animal ou de relação era um simples aperfeiçoamento complementar, superajun– tado, por assim dizer, à vida orgânica, fundamental ou vege– tativa, e própria, quer a lhe procurar materiais por uma inteligente reação sobre o mundo exterior, quer a preparar– lhe ou facilitar-lhe os atos pelas sensações e movimento, quer enfim para melhor preservá-la das influências desfavo– ráveis. Quanto à segunda objeção, deixará de existir se ad– mitir-se o adendo de Comte : dados um organismo determi– nado e um meio conveniente . . . Assim, porém, surdirá um círculo vicioso, pois que, para determinar a noção de orga– nismo ou ser vivo, é preciso o conhecimento primacial do que seja a vida. Para evitar êsse escolho, dou mais adiante a. definição de um ilustre brasileiro, o falecido doutor J. J. Pizarro, professor de História Natural na Faculdade do Rio. M. G. Lewes assevera : "a vida é uma série de mudanças definidas sucessíveis, tanto de estrutura como de composi– ção, que se operam em um indivíduo sem destruir a sua identidade". O último fato que esta definição tem o mérito de tra– zer à luz, a per sistência de um organismo vivo formando um todo a despeito do renovamento e substituições de suas par– t es, - é um ponto muito de notar. . A única opugnação que se lhe pode fazer é a que lhe 1r_ro~a Spencer nestes têrmos : "afirmando que as mutações v1ta1s formam uma série, não deixa entender que várias des– sas mudanças, como a nutrição, a circulação, a respiração e a secreção, nos seus numerosos ramos marcham simulta– neamente" . Spencer , que bem estudou todas essas definições, mos– tran~o-lhes o mérito e criticando-lhes os fatos, apresenta a segumte como satisfatória : • "A vida é a combinação definida de mutações hetero– geneas ao mesmo tempo simultâneas e sucessivas em cor– r espondência com coexistencias e sequências ~xternas". Ac~a que a vida está na harmonia entre o organismo e seu n:ie1?, ~o en_tretenimento das ações internas que fazem equi– hb~10 as açoes exteriores : por outras palavras, num definido mais amplo e mais completo, a vida é a acomodação contínua: das r elações internas" . · ' · Assim o gráu de vida varia com a ordem de correspon– d.ênoia entre as 1:elações internas e JiS~.relações. externas ::

RkJQdWJsaXNoZXIy MjU4NjU0