Revista da Academia Paraense de Letras 1952 (Janeiro v2 ex2)

IlEVISTA DA ACADEMIA PARAENSE DE LETRAS 157 ~ a saudade que acorda, a aln1a que desce, a materialidade de um despeito de mágoa antiga que se não esquece ... Vai o sonho de júbilos desfeito na certeza tristíssima da vida amarga de um desejo insatisfeito. A alma do triste é como a ave ferida. Que desnorteia e desce e se debruça nos rainos do cipreste enlang:uccido . . a altna tan1bém no ínti1no soluGa ... E no salão de festa. onde se agita a horda feliz dos ébrios da alegria passa dançando um9 mulher bonita . . . E no fulgor de tanta fantasia ei-la sorrindo . .. E súbita emudece, sob um, tédio mortal de nostalgia . .. Vago mistério da alma oue padece n mal latente do íntimo desoeito de mágoa antiga que se não esquece . Que até na alcova, no calôr do leito. saciado o instinto. o sentimento estua na febre de um desejo insatisfeito ... Por isso cm noites outronais de lua. aparecern silhuetas nas jan2Jas . . . Há boêmios cantando nelas ru~s .. . Há insônia na alcova das donzelas .. . nevo acrescentar. Sr. F.lmann Q,ueiroz. que não só da vossa nocsi:a nnsr.eu o propósito de atrair-vos ao seio da Academia Pa– raenc::""' de Letras. Soi~ um vetPr::i.,o cJq oPn:t, ouritidinna1nente dedicado ::i escon– rlP-Ia. tu\ colaboracão editorial da imprensa. - êsse terrível sorve– douro de ~tionim;:\tos. en, cuia vor~qen1 se afundam oreciosos n1iné– rin~. É exPt~rnenf.e n êsse can100 de atividade Que floresce a seAra nu1is ab11nd~111te do vosso espírito. na J!raciosa tessitura do humoris- 1no. Le1n'irai ~"rniQ'o. nêstP rAoidG n1nmento. a história do chocalho emore!-õütrlo : "N" c::P.rtão pia uie nse vai ter. a service da sua fé, u1n 1nissionário cap• 1 ,·hinho. aue se hosoeda nn residência do Coronel Fcitosr1. In1provi~ri. no alpendre. uma cnoela. e oede um sino. que s irva de necessit~r ,., ,,.., rehanho às ladainhas do culto. A falta de uni o:;inn. in1oossivel. ... 1 i:ís, de ohter naquelas inóspitas redonde7.as . acnde :ilauém com a ;rléia de pedir-se emprestado ao vizinho o cho– cnlhn. não d" seu U~". mas de oue usava nara chamar à ração . nas horas certas. o seu inr:on1putâvel rebanho de bodes, cabras e êar– neiros. Armado " choc;,lho no alto da capela postiça, é claro que ficou o vi,.inho impedido de entender-se com a sua enorme cria– ção de lanigeros, que. à h"rn da ceia. andava aos pulos pela serra próxilna, uns e outros cochichando o receio de não terem. nesta t:-irde, alimento. Passada, porém. a Ave-Maria, lá foi o santo capu– chinho dar aos fieis com o maldito chocalho o to11ue de reunir. Tan– to l);,stou oara que. de súbito. inv;,disse o alpendre, não a esperada multidão dos crentes, mas um:i multidão inesperada de carneiros, de cabras e de bodes". Como vêdes, meu prezadissimo confrade, estão a rir todos os que me ouviram. Possa a veia humorística. que tendes dentro do vosso esoirito. espargir constantemente por sôbre a austera gravidade acadêmica, o hálsamo consolador dêsses risos. Quem assim faculta aos seus se– melhantes êsse dôce refri11ério de orvalho espiritual não precisa de outros merecimentos para honrar, com o seu no1ne. uma corporação de homens cultos. f: por êsse teôr que se exprime. Sr. Elmano Queiroz. a alegr ia com que vos saúdam. através da minha obscura palavra, os vossos confrades da Academia Paraense de Letras, ~êçJe benvindo, Sr. Elmano Queiroz,

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