Revista da Academia Paraense de Letras 1952 (Janeiro v2 ex2)
Í5tl REVISTA DA ACADEMIA PARAENSE DE LETRAS ca_pital da sensibilidade, nad a mais fruto do que submetê-la a disci– pJi.11a. da cultui:a., a que os sentimentos podem ser parale los , em certas naturezas privilegiadas, ma s a que ioge , pelo comum, a alma ingênua do povo. Dessa propositada distância, em que os nossos espíritos se co– locam, longe da índole nacional, o nosso povo se vinga, deixando os festivais de arte à feira das va id ades mundanas, onde as plateias são indivíduos que pagam ent radas para ouvir o que nã o percebem. Em todos os países em que o govêrno é uma força alheia aos destinos morais da nacionalida de, nada mais fá cil do que constituir em doutrina essa perversão ·do gos to artístico. Em nossa terra, Sr. E l– mano Queiroz, o pedantismo catedrático, invertendo os dados con– cretos do problema, sustentá a fórmula da educação d a nossa gente para entender êsses motivos de importação estrangeira, quando ao contrário, as grandes inteligências é que precisam voltar-se para os inexauríveis filões do nosso cará ter, e asse ntar sõbre êles a glória das suas lavras. Há não sei que, dentro e m mim, Sr. Elmano Queiroz, que me leva a diagnosticar um estado mórbido muito grave na inaudita de – generescê ncia com que primorosas celebrações aceitam a insípida vu lgaridade desse futurismo, a bsurdamente versos em que a música perdeu todos os seus divinos encantos, como se a velha tradição das nossas modinhas nã o bastasse para evidenciar que essa poesia ofende os brios da nossa raça . Não sei se os turibulários dêsse culto exótico refletiram, algum d ia, na incontestável s uperioridade da inspiração com que os esmaga a poesia brasileira, pela voz das almas rudes. O fato, Sr. Elma no Queiroz , é que à s "Serenatas " devemos a preservação dessa riqueza. Ca tulo Cea rense , que a vem explorando com um brilho capaz de empalidecer as mais pretensiosas famas, traçou um bosquejo feliz dêsse mot ivo de a r te. "Mesmo em nuve ns empanado, o só!, másculo e fecundo, desde o princípio do mundo, ' não deixou de iluminá -lo com o facho do seu clarão, A lua, se t em vontade, nos brinda com a claridade, para depois, sem piedade, deixar-nos noites e noites em comple ta escuridão Mas se o só!, e sól radioso, se o só! é um pã o luminoso, u m cér ebro em combustão ; a lua magnifice!:lte, h á de ser, e ternan1e nte. a hóstia do coração. O só!, desde que alvor ece, chama os · g ra ndes lutadores , para viver e lutar ! ... Á lua, quando anoitece, vai chamando os sonhadores para com ela son har !" Se m a mácula d o fe io solecismo, que o extra ordinário poéta es– queceu a sinta xe do infinito pessoa l, também vós, ilustre a cadêmico, t e ndes nos "Mistérios da Alma" , êsse panorama d a boêmia serta neja , e m cu ja d e voção ainda nã o a frouxou a vossa intrépida fidelidad e . Per1nití que os re cite : Às vezes, q uantas vezes, no tumuíto das rodas boêmias, 1-.0 calor da org ia , a embriague z é um rito em que a saudade é c ulto ... Tanto que nesses transes d e alegria o boêmio canta . . . E súb ito emudece ~ob um tédio mortal d e nosta lgia ..
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