Revista da Academia Paraense de Letras 1952 (Janeiro v2 ex2)

Nada obstante êsse exemplo, a êsse exemplo faço rosto, sr. Elma– no Queiroz, para dizer, dêste lugar, os versos da "Serenata" que são êstes : "'Não sei porque, nas horas sossegadas, comove tanto a 1núsica das ruas ... parece que, alta noite, essas baladas relembram coisas Intimas passadas em fases mais ditosas de outras luas. P arece que o cantor do boêmio errante vai derramando, pela noite afóra, motivos simples de canções de outrora, reminiscências de nm lugar distante ... Uma capela rüstica, pequena, ao pé do morro, entre á rvores antigas ... Outras vozes simpáticas, amigas . . . O luar na a ldeia ... as noites de novena ... Os goivos das saudades que passaram ressuscitam, na alcova, à noite mô'rta, quando êsses boêmios passam pela porta, cantando essas canções que outros cantaram ... Lembram noites da infância . .. A alma assustada ... um tropel . . . um rumor... un, bater d3sa ... As goteira~ chorando na calçada .. . O cabaré ;:emendo atrás da casa .. . T udo desperta, no silêncio dalma, quando passam cantando pela rua. Na alcova, a insônia . . . lá por fora, a calma ... E na volúpia que do luar tra nsborda, a imagem da saudade branca e núa ... Depois, ao longe, um cão, que um ébrio acorda, fica na solidão ladrando à lua . . . Por êstes versos demoram-se os olhos, porque, na linguagem das comparações, os olhos são "'as janelas do espírito", e foi sempre através das serena tas que o meu espirita compreendeu os traços congeniais da nossa lndole e a mais alta vocação artística d a n ossa raça. Só o hábito da imitaç;ão, esquecendo os eleme ntos que pre– param a mentalidade nacional, deixaria mergulhar no ouvido, como inúteis despojos de um na ufrágio, a formidável riqueza que jaz por aí além, nos versos das nossas modinhas. A essa poesia magnifica. em cujo leito se de rrama, pelas vertentes da nossa história, a alma de um passado encantadoramente de inspirações, o príncipe dos nos– sos vates chamou, com a máxima propriedade, "flor amorosa de três raças tristes". É exatame nte aí, Sr. Elmano Queiroz, que êsse veio aprofundar as s uas origens. Descrever-lhe os primeiros borbulhas, no sentimen– to primitivo dos nossos maiores; a luta para a adaptação do seu ál– veo, na sombra dêsse mistério infinito que a saudade vertia no coração dos exilados; os tropeços da corrente de pedregulho em pedregulho, na bravia rudeza dessa ignorâ ncia com que os coloniza– dores pe netravam os ásper~s segredos d_o .nosso ime!'so tetritório; os seixos rolados pelos dechves, no vasttss1mo estuário de cálculos fracassados e sonhos moribundos; descrevêr êsse quadro equivaleria a perpetua r, para escarmento dos nossos !~zeres, o espetáculo das passividades Ignaras, com que trocamos, hoJe, o esplendor do ouro na tivo pelas fulgurações das joias ele fantasia . .. A nossa música, o nosso canto, Sr . Elmano Queiroz, é a modi– nha ; e quando as nossas celebridades comp õem gêneros clássicos, o que elas revelam é um simples defeito de escola, cuja errada peda– gogia os tornou incapazes de consagrar, em modelos definitivos, os pendores artísticos da nacionalidade brasileira. Em cada trecho de música, o que define o mérito da inspiração é a consensualidade emotiva, fenômeno muito diverso do que se passa no terreno das artes exercidas por intermédio das sensações vlsuai6, Expressão

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