Revista da Academia Paraense de Letras 1952 (Janeiro v2 ex2)

,. REVISTA DA ACADEMIA PARAENSE DE LETRAS 14~ V I S I O .N Á R I O S De TERENCIO PORTO (Capítulo de um romance) Tcrcncio Porto, pat.rono da. ca .. deira n. 36 Elsa vendo a atitude hostil de Júlio, que diante dela emude– cia e fe~hava o r osto desconfiando que êle de tudo soubesse, não saiu mais e procuravd por todos os meios tornar-se a gradável. Du– rante as refeições conversava e ria, contando casos, servindo um e outro, insinuante e encantadora. E Ercilia, que não lhe falava desde o ataque, viu-se obrigada a rcc~nciJi.:~r-se. . _ Mas aquela mudança repentina nao d eixava de intrigar a mu ... lher de Adolfo. i:ste continuava a ser o mesmo - impassível e ntudo ; uma vez J>or outra, alta noite, chegava bêbedo ... Dava-se n 'alma de Júlio, no entretanto, um fato singular. Ia sentindo pela madrasta cada vez m ais crescente, o sentimento doce e crimino so que o invadira àquela tarde chuvosa e parda, no seu quarto, lO!,;O após o momento em que soube de sua queda... Na presença dela e mais para ser coerente consigo mesmo, afetava reserva e alJorrccimen to, mas notava-lhe todos os gestos, tôclas as palavras. Dura nte as refeições, quando ela ia à cozinha, achava maneiras de volta r-se e apreciar-lhe os movimentos balanceados dos quadris fornldos ... Em contradição com tudo aquilo, a piedava-se imensam ente do pai. Vinham-lhe às v ezes llesejos de abraçá-lo e de beijar-lhe a face, em carícias longas e an1oritveis que o indenizassen1 de tôda. :i. su:1 dcsgl'aça. No silên cio do quarto às v ezes, quando lhe assaltava O espírito algum pen samen to Infame, r1uando, através do estrabismo da sua nev rose, v ia Elsa se lhe entregando nunta long-inoua e hipotética IHobabiliclade, todo se arrepelava em s urda revolta contra o seu saw i:ue, num desesp ero intenso que o crispava todo de raiva. , ,

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