Revista da Academia Paraense de Letras 1952 (Janeiro v2 ex2)

REVISTA DA ACADEMIA PARAENSE DE LETRAS 13 CONCEITO DA BIOLOGIA A vida e a morte De ACILINO DE LEÃO A Biolo!!,ia é a c1encia da vida e dos seres vivos. As leis que regem a vida nos seres organizados, ou leis vitais, constituem seu objeto : donde, para determinar-lhe o ver– dadeiro conceito, a necessidade de analisar, de começo, a idéia fundamental de vida. Antes de Bichat, a idéia de vida estava imersa em pura abstração metafisica. Êle próprio, depois de haver perce– bido que uma concepção a respeito só podia ser fundada na visão geral dos fenômenos privativos dos seres organizados, sofreu sem o saber a influência da antiga filosofia e definiu– se como uma luta entre a natureza morta e a natureza viva. A irracionalidade de tal entendimento consiste sobre– tudo em suprimir um dos dois elementos cujo concurso é necessário à idéia geral de vida. Essa idéia supõe, com efeito, não só a existência de um ser organizado, de modo a comportar o estado vital, mas também a presença de um çerto conjunto de influências exteriores próprias à sua rea– lização. A harmonia entre o ser vivo e o meio correspon– dente caracteriza a condição fundamental da vida ; enquan– to que, conforme a suposição de Bichat, tudo o que rodeia os corpos vivos tenderia a destruí-los. Se, como cuidava o sábio, tudo quanto circunda os cor– pos vivos tendesse realmente a aniquilá-los, 5ua existência seria por isso mesmo ininteligível, - pois de onde poderiam e)es obter a fôrça necessária para superar, por momentos embora, um tal obstáculo? Na verdade, a vida de cada organismo de ixa de ser possível logo que a constituição de ~eu meio ambiente venha a sofrer, sob um aspecto qualquer, mui grandes perturbações : e nêsse caso a ação exterior se torna, efetivamente, destrutiva. Mas, encerrada nos limites de variação conveniente, é habitualmente conservadora. Certos filósofos, principalmente na Alemanha, têm ge– neralizado com excesso a noção abstrata da vida, tornando sua compreensão exatamente equivalente à da atividade espontânea. Como todos os corpos naturais são ativos, em gráus diversos e segundo modos diferentes, tornava-se difí– cil ligar ao nome de vida uma significação distinta, incon– fundível. Tal abuso levar-nos-ia à antiga confusão de atri– buir a Yida a todos os corpos. Convém restringir cuida– dosamente êsse têrmo aos seres realmente vivos, isto é, aos que são organizados. (Comte) . Quando se quer definir algo de complexo, ou fazer uma ge~eralizaç~o de fatos que não são simples, é impossível de!xar de a1 compreender mais do que se deve, ou de excluir coISas que se desejavam inclusas. Donde a dificuldade quase insuperavel das definições de fatos biológicos, e ou– tros. Assim a árdua tarefa d e encontrar na síntese de defi– nido a justa noção da vida, que não fique aquem, nem vá além, e seja exatamente suficiente. (Comte). I

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