Revista da Academia Paraense de Letras 1952 (Janeiro v2 ex2)

REVISTA DA ACADEMI A "PARAENSE DE LETRAS "Tudo acabado entre nós dois. No dia Em que êste amor meu peito penetrou, Eu me pús a pensar Que nunca em minha alma deixaria De viver e cantar, De viver e cantar, como deixou ... Com lágr imas nos olhos êle declara : "Depois de um lindo céu me haver mostr ado, Tornou-se-me, d e súbito, incleme n te ... Mas hoje, felizmente, Hoje tudo acabado." E, mais sincerame n te, êle confessa : "Sofrí, não resta dúvida. sofri ! .Jamais na vida algu1n enan1oraclo Padeceu tanto qua nto padeci. Trouxe por muito, o peito lacerado, Por muito tempo o coração doente, Mas hoje felizmente, Hoje, tudo acabado . .. " Faz depois esta súplica dolorosa : "Leva-me a gora a todo esquecimento Asshn como entre dúvidas te levo. É o que faço no 1nomento Em que debaixo de impressões me é dado Escrever-te êstes versos que te escrevo : Mensageiro que vão di>.~r-te ao ouvido Que tudo e ntre nós d ois está perdido Tudo, tudo acabado .. . " 145 E pressentindo a saudade que o martirizaria para a vida inteira, conclui, asshn, o seu poen,a de dõr : "Quen1 sabe se an1anhã, de ahna serena. E de sereno espírito, depois, Tu própria não dirás assim : Que pena Ter-se tudo acabado entre nós dois ... Como um prenúncio de além-túmulo, ouvi d e Vespasiano êstes versos, que dão sua causa-mortis : "E se e u me for assim, deixando êstes abrolhos. Sentindo êste pesar que, forte me flagela, Que e la v enha a saber, com lágrimas nos olhos, Que eu só morri de amor, s implesmente por ela." Eis o que foi, poé ticamente. Vespasiano Ramos, o espírito brilhan– te que deixou como vestígio único de seu trânsito na terra, essencial– mente e m Belém, os versos magnificas que escreveu e a admiração que perdura ainda n a a lma dos que gozaram de sua privança e participa– ram do banquete espiritual em que é le foi pródigo Anfitrião. Aqui chegou sem anúncios : aqui viveu sem ala rde, daqui desapa– receu sem ruido e para uma vez desapareceu . .. Em seu sepúlcro, adaptar-se-i,i o epitãfio que Alvares de Azevedo idealizara para su a cruz : - "Foi poéta, sonhou e amou na vida" ! Foi poéta feliz. . . Sonhou como um boêmio e amou, como os pas- sarinhos, cantando seus queixumes. E como a ave, que após cantar no horto, Des fere o vôo e parte para além, sua a lma, ao ver seu coraçã() já morto, partiu como ave que cantou também 1

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