Revista da Academia Paraense de Letras 1952 (Janeiro v2 ex2)
-REVISTA DA ACADEMIA PARAENSE DE LETRAS Com as leves substância~ con1 que ~cudia às urgências do estõ1na– go, Vespasiano ali1nentava-sc de espuma. . . da espuma liquida, em– briagante. da cerveja. E; o fazia co1n tal requinte àe boemia, que fôra perversa irreve– rência censurar a quem com tão natural desprendimento de si mes- 1no, en1briagando-se voluptuosarnente, procurava esquecer uma sati– dade antiga, enfermidade elo amor. um mal. terrivel mal de quem desdenha e com que todos simpatizam, humanamente, enternecidamen– te, porque todos nós ta1nbén1 te tnos cornç5o. É muito conhecida a história româ ntica ele um beijo, em que foram protagonistas : Amparo, a espanhola bonita que viveu querida, e Er– nesto, o pintor de talento, que morreu apaixonado . . . porque um beijo é, à!; vezes , umn e smola de amor rece bida com unção e muitas vezes é um pedaço dnlma que se evola pe!a boca . .. Vespasiano Ramos, também. teve a sua história de beijo ... E amou, em tôda sua vida. a quem tôda vida o enganou. Queixando-se. êle escrevera : "Foram por ti as lngri111as que os olhos meus derramaram ! Só por ti, sómente, Que minhalma de amor entre os escolhos, Hã de. convulsa. soluçar. um dia, A derradeira lágrima pungente. E o derradeiro grito de agonia ! Mas a mulher fatal dos amores ainda o enganava e ê le queixava-e:.e ainda: "Foi-se embora a manhã mais luminosa Se não podias vir, se tu nüo vinhas ! Para que tu mentis te. 1nentirosa ! Mentirosa ! ... Vespasiano ainda ha,·ia recebido a esmola de um beijo, quando escrevera éstes versos apaix:mados : "Não terei essa esmola ! ;'.: o travo verdadeiro Que n1e planta nesta ahna angustias infernais ! Sem a esmola ele um beijo, o meu amor primeiro Nunca 1nais terá fi1n . . . nunca n1ais . .. nunca n1ais !... " Tentado a hu1nanizar a espiritualidade de seu a111or na volúpia material do pecado. teve o poé ta um idllio, lastimàvelmente inter– rompido. Eis o que lembrava o seu pobre coração : "Lembrou aquela noite de delicias . . . Noite de a1nor e rn que nós dois scntin1os, Na permuta de Ufft beijo, de caríc ias, Noite de arnor en1 que ao dizeres : Anda Nós dois trememos porque nós ouvimos , Uns rumores de passos na varanda ... Uns rumores de passos na varanda fizeram Vespasia no, que era timido, interromper o iclilio começado. Noutra noite, porém, êle foi menos assustado : "Naquela noite em que, nervosa e linda, Aos meus braços, de Amor te abandonaste. Ah I que lembrança deliciosa, in finda ! Eu não esperei que tu dissesses-Anda ! Nem me importei, nem mesmo te importaste Dos rumores dos passos na varanda. Da primeira, o poéta não foi feliz, m?s desta vez parece que foi. Mas se foi . essa felicidade durou pouco : éle próprio o relata em seu "Ponto Final'', c ujos versos têm o travo ela angústia dos desenla– ces supremos : j l l
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