Revista da Academia Paraense de Letras 1952 (Janeiro v2 ex2)
REVISTA DA ACADEMIA PARAENSE DE LETRAS 141 . · Grita-se contra os ladrões, contra os assassinos ; grita-se contra todos os c rin1inosos. Sem razão, entendo cu. Pois êsscs h eróis não estavam no uso legitimo de sua liberdade ? Niío exerciam o seu direito de fazer tudo o que quisessem ? Eis até aonde chegaríamos com a adoção de um principio falso. Delxariamos de viver em sociedade, e nos tornaríamos sel– vagens. , . Acr editaríamos nos maiores absurdos, a pretexto de liberdade ele pensamento. Não haveria ntais respeito aos poderes pllblicos ; desapareci– riam as conside rações para con1 os pais e os s uperiores cm geral, não se g nardarian1 as convcniênrias sociais; não haveria mil.is aquêle mútuo respeito e estima de cada um para com todos, e de todos para cada um ; anelaríamos nos insultando e Injuriando a cada passo, a pretexto de liberda de ela palavra. E a sociedade converter-se-ia num covil de facínoras, a J>re– texto ele fazer cacla um tndo o que quisesse. Se a sociedade, ca !cada cm moldes tais, pode servir de tipo no n1u1Hlo civilizado, neste caso vale a pena que v ivan10s cncer– r:1 do s cn1 nossas casas, ou saian10s à rua scn1prc armados para de– f c ndcr as nossas vidas. 'fôcla a garantia :ndividual desapa rece perante o abuso da liberdade, isto é, da m ais nobre e sublime das prerrogativas do homem. Para )locler existir socieda de bem constituicla, é 1ireciso que cada um ceda uma parecia do seu clireit.o e da sua liberdade para . proveito da co1nunh.ladc, que é, cnt úll.!n1a. análise, o seu próprio provcit0. .L\.ssírn , todos tcn:10s não só o direito, mas o dever de Vetar pc.:la própria conservaçfio ; mas não o podcrc1nos fazer, aproprian- 10-nos, por exemplo. cios be,is a lheios sem o co•·sen timcnto tio seu t~ono, - sol> pena de comctcrn1os com isso um e rime e recebermos a j usta puni~:lo. i; preciso enjaular as fer3s indo1n:iveis, para não s~rmos por elas devorados. E depois i;r it.amos : Tirania ! Na realidaelc, se há ti ranos. somos nós mesmos, que pretencle- 111os sarrificar o lJcm estar de todos, a caprichos ou paixões incon- f<)Ssávcis. . P ... o invés disto, é auxili~ndo-nos e respeitando-nos n1útuamcnte, q ue concorremos para o 11rogredimcnto e pcrfcctibilieladc da na<;ão. Por êst c enunciad o se vê qne a libe rda de sem r estrições é uma ve rda deira utopia, visto q ue ofende os princípios ·-da sociabilidade . II Falemos da I:bc rda cle ele imprensa. Ning-uém irá, cn1 unta sala de baile, por cxcn1plo, insultar a um cavalheiro ou faltai- cont O respeito a urna senhora, proferindo pa– lav ras inconve nien tes, cscuclado co1n a liberdade da palavra. E se tal fize r, ser:i tido como insole nte e grosseiro, indigno de frequen– ta r a s bõas sociedades. Pois o mesmo q ue se clã com a palavra articulada, eleve dar-se co1n a palav ra escrita. Ninguém tc1n o direito de escrever, suponhamos, uma carta h:juriosa a qualquer pessoa, sob J>cna de sofrer as consequências cio seu ato. Os ébrios, ,iuando andam pertubando o sossêgo público, são logo custodiados )leia policia. Niío sei cntiío como se pode )lermitir na imJ>rcnsa aquilo que se reprovaria cm tuna sala, en1 carta. particular, ou nas ruas pú– blicas ! Se um individuo faz circular qualquer J)asqulm manuscrito, todos bradam contra o enorme escândalo ; mas se 1rnblicar a mes– ma pasquinada em um jornal ninguém tem o direito de o censurar e condenar, porque eleve ser' res)leitada a liberrla cle d e imprensa ! Já se v iu n1aior absurdo, mas palmar contradição ? Porém diz-se: "A imJ)ren sa é a luz; e J>Or isso niío se deve restringir o seu exercício". Êste é um <los mnitos dislates que hoje correm com os foros d e verdades inconcussas. A luz não sai dos "tipos" nem da11 mãos dos "compo11ltores",
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