Revista da Academia Paraense de Letras 1952 (Janeiro v2 ex2)

i4o nÊv1sTA DA ACADEMIA Í>ARÀENsE DE LÉ-rnAs CONSIDERAÇõES SOBRE A LIBERDADE VILHENA ALVES Vilhena Alves, patrono da ca– deira n . 39 Que e ntende o leitor por esta bonita palavra - liberdade ? Liberdade - como v ulgarmente se d efine - é o direito de cada um pensar, dizer e fazer tudo o que quiser. Daí, a liberdade d e pensamento, a liberdade d a palavra e a 1;be rdade d e ação. Mas a minha questão não é com a liberdade, é com o abuso dela. Eu a dmito que o homem pense, fale e procure a gir liv rem ente, dentro dos limites m arcr.dos pelas leis do bom-senso e pelas J>ró– p rias leis socia is. Fora, porém, dêsses limites, não há m a is o exer– cício d e um direito : hã um abuso, dígno ele censura, ou de punição. E se não, digam-me : Terei eu o direito de 11ensar que a pedra é p á u e o páu é pedra ? Terei o direito de j ulgar verdadeira a existên cia das a lmas penadas, a Teoria da e stabilida d e ela Terra, da Incorruptibilida d e dos a stros e tantas outras tolices c1ue se crêem a olhos fechados ? Não, não tenho tal direito : e se, num momento de d esvario, eu acreditar em tudo isso, deverei d esde Jogo consi– derar-me louco, ou parvo. E se manifestar a ou t1·0s as minhas crendices, êles deverão conside rar-me da mesma fol'ma. Para que existem le is em todos os países ? Para a r epressão dos crimes. E que são os crimes senão abusos da liberda d e ? Se o homem é liv re de fazer tudo o que quizer , nes te caso a s leis são uma iniquidade, os juízes uns a lgozes e a justiça uma tira.– n ia, que corta o exercício da liberd ade. Neste caso, o abs11rdo levar-nos-á até ao extremo d e a dmitir como a m a is Jlerfeita d e tôdas as sociedades a dos selvagens das brenhas, onde se pratica mais ou menos essa decantada liberdade sem limites.

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