Revista da Academia Paraense de Letras 1952 (Janeiro v2 ex2)

A 'REVISTA DA ACADEMIA PARAENSE DE LETRAS AUTOBIOGRAFIA De OSVALDO ORICO o svaldo Oríco, socio honorari,) perpetuo da Acadelllia Paraense (]e Let ras, onde ocupou a cadeira 11 , 38, - "Tito Franco de Almet– d:•" - e a~ua_l socio da Academia Bras1le1ra de Letras ... 137 Em 1936, de regresso à Beléf!l do Parà, a fim de assumir o cargo de diretor geral da Educaçao e Cultura, para o qual me con– vocara a confiança do meu precl~ro conterrâneo e amigo, dr. José Ca rneiro da Gama Malcher, fui reve r a casa da Rua da Indús– tria, onde, a 29 de _de7:em_bro d<: 1901, . eu nascera e p assara os pri– meiros tempos da mfancia .. Nao havia mais vestígios do p rédio. Nem da oficina de meu pai, que demorava ao lado. Havia entre– tanto, a p oesia da memória. E, mais do que isso, a fidelictade de um culto pelo pequeno e modesto_ lar que me agasalhara. Sou filho do ferreiro l\'1anuel Fehx Onco e de Biandina Orico. Meu pai, mestre da forja, foi o meu primeiro mestre na vida. Ensinou– me a aspereza da existência e a_ ~eleza. da luta. Minha mãe, que lhe sobrevive, foi outra mestre 1mgualavel. Educou-me para a serenidade no sacrifício e para a confiança em mim mesmo. O resto foi obra do tempo . Fiz meus primeiros estudos num colégio de gente abastada, o Instituto Amazônia, de onde fui obrigado a transferir-me pa ra um grupo escolar gratúito. Ingressei depois no Ginásio "Pais de Carvalho", ond':' f!z o meu curso de preparatórios e me habilitei para o curso de d1re1to. Aos 16 anos de idade traba– lhava na r evisão do "Estado do Pará", iniciando a minha carreira jor nalística e publicando os p_rimeiros trabalhos lit8rár ios. Um dêles - lembro-me bem - foi um soneto cantando as glórias lusi– tanas e intitulado - A Portugal. Soneto que me valeu uma caçoada razoável do meu professor . de português, Ferreira dos Santos, por haver pespegado Jogo no titulo da obra uma crase manifestamente inoportuna. Ainda no primeiro ano do curso de Direito participei de uma campanha politica que me obrigou a deixar o Pará e ir à procura de outro centro para os meus estudos e atividades jorna– lísticas. F ui pa ra o Rio de Janeiro, onde cheguei com cinquenta mil reis no bolso para recomeçar a vida. Era um nababo, se quisesse comparar-me a Guimarães Passos, que ali aportara apenas com duas laranjas. A primefra colocação que tive na capital do meu pais devo-a a Bruno Lobo, então diretor do Museu Nacional. Sa– bendo que eu era dado às musas e cultivava as flores d a retórica, nomeou-me... jardineiro do Museu. Nesse emprêgo, escrevi, 01o1 melhor, plantei o meu primeiro livro de versos, "Dança dos Piri-

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