Revista da Academia Paraense de Letras 1952 (Janeiro v2 ex2)

136 REVISTA DA ACADEMIA PARAENSE DE LETRAS e separatas ; esperando-se que cm breve estejam reunidos em volu– me, como merecem , o que nos exime de citações que poderiam alon– gar êstes dissertamentos e, porventura impacientar esta generosa e distinta assembléia. Assim desejo que esta faceta do valor de nosso pranteado confrade satisfaça a curiosidade de quem, talvez . espe– rasse o desvendamento biográfico de um jovem escritor, jornalista, professor de humanidades, homem público, que em tempo curto pelo mundo desempenhou numerosos cargos e encargos em admi– nistrações de municípios, Territórios e Estados lugares que não foram por éle sóm ente ocupados, foram preenchidos, rigorosamente vrcenchldos tal a consciência que tinha, por educação e firmeza d e caráte r, dos seus deveres e obrigações e também pela sua competên– cia, como bacbarél cm direito, que era, cm brilhante curso que conquistou. Se isto pode r ealizar a bios rafia d e um rapaz de 36 anos de ida de, aqui a expresso, desintegralizada das bisbilhotices pascãcias de biografandos solertes. -::- E abro, nesta altura d e pásina, uma cortina de minha ignorân-• ela desprevenida, que fôra talvez melhor não d esvenda r . Eu n ão sabia que Paulo ia pa rtir. A r esolução de o fazerem seguir, se estava prevista, foi cruel, intempestiva, de horripilante desígnio. Por que faziam isto ? Have ria, de novo, um Dlp maldito determinando ordens dessa natureza? Que fize ra Paulo, para me– recer tão letal expiação, êle morigcrado, calmo, refletido, v ivendo para a família, para seus deveres e para o seu ideal de escritor ! O menino do jornal passa grita ndo, â minha porta r eafirmando a es– tarrecedora notícia que alguém antes m e dera de passagem . Não sosseguei mais. Visto-me apressado e corro a d espedir-me de Paulo, o amigo de estudos dos m eu s filhos, meu amiso, amigo de minha gente de casa. Visto-m e ás pressas, r epito, e apressado chego âquele exquisito aeroporto, aonde eu já fôra, uma vez, levar um filho, a quem amava loucamente e cuja viagem disseram-me que Deus de– terminara. Pensei nele, mas meu objetivo era de spedir Paulo. Quanta gente no campo ! Ouço o roncar dos motores acelerados, corro e só tive tempo de um aceno de mão, num adeus mudo d e amargura. O a1>arelho decolava indiferente como um coveiro sem alma, levando Paulo irrcmediávelmente e ameaçando voltar, num certo amanhã, para nos levar também, como a tantos tem levado, pérfido avião funerário de vôo indefinido para o d esconhecido e que se antecipou aos m a is mode rnos da aviação de nossos dias. Avião presago que vôa sem timoneiro nem pilôto, levado nas asas da nossa imagina ção delirante, no bem su ave de nossa lembra n ça , envolta à qual ficamos cá cm baLxo, olhando Jlara o descampado <lo éter a zul e enigmático como um cego que busca desesperado a luz perdida para sempre. XXX E aqui me calo. Aqui silen cio, tal a sentin ela à escu ta, que cuida apanhar na brisa que cicia e murm ura, o mistério do obje– tivo que almeja, a finalidade do esforço paciente das oiças atentas. Sim, sile ncio, de m ãos postas por todos da Acadenlia, nesta J>recc à posteridade que é o ofe rtório do nosso pensa1nento, das. n~ssas re– cord ações, das nossas reminiscên cias de sauda d e puriss1ma, de nossa ternura fraternal, orvalhadas com as lé:l.grimas de um pran~ em h emorragia de sensibilidade, pranto que soluços de d or nao sufocam e s uspiros magoa dos proc u ram inutilmente consolar.

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