Revista da Academia Paraense de Letras 1952 (Janeiro v2 ex2)
' REVISTA DA ACADEMIA PARAENSE DE LETRAS 133 São verdadeiros poemas em prosa, em que o brilhante intelec– tual reflete o requintado de sua cultura e a imensidade do seu co– r ação em face de três estádios de sua gloriosa vida e de criaturas outrora felizes, que detiveram as expansões de seu amor filial, con– jugal e pate rno : TRíTICO DO A i\IOR FAi\IlLIAL I AINDA SOU CRIANÇA Oh ! vos que me destes n vida numa noite de amor ! Como vos quero e II CANÇÃO DO AMOR QUE ENVELHECE Estou me sentin– do vell•o. Hú can – saço em meus ges- ~uno e quanto v os tos e :rn eu coração agradeço e a bcnçôo anseia pelo repouso com tôda a fôr ça do infinito. Caminho meu coração de fi- devagar pela estrada lho ! Não me deixeis da vida, mudando os sozinhc e nem me abandoneis ne ss e s Gólgotas do mundo scrn o vosso conse– lho ! Sinto-me fra– co, nú e m iserãvel, nfastado de vossos olhos atentos e ami– gos. Tremo de frio n as jntermináveis noites de inverno , se não me acolho à morna carícia do VOSSO a g a s a I h o. Qua ndo me obrigam a luta r pelo meu lu– gar ao sol, faço-me de bárbaro e he rói, mas o medo se e n- p:issos com cuidado para não perturba r o sossego da poeira . P ermaneço compri– das horas a tn irar um in~eto de asas nervosas o u uma graciosa flor que se debruça sobre sua haste. Meus olhos estão vendo 1nais que a nt,iga rnente. E sentcn1 a beleza que exis te n a con tem– plação . T o d a v i a, alegro-me em saber, que não estou sozi– nho nesse longo pas– seio que será o úl- f ur na ,:,m m inhalma t imo . Alguém se de cria nça. Ainda arnparn em meu sou infante, sou dé- braço, nos dias bons bil e minhas asas ·, ou rnáus, ricos ou não podem voar pobres, com saúde pa ra longe de vós . ou doença, aman – Dlzeis-me que sois do-me sempre até ::i velhos e, por tanto, mor te nos separa r frãgei~. mas eu vos n::i t erra devo tanto, que não posso acreditar que a i dade vos reduziu a fôrça e o t ama- n ho . . . III MINHA VIDA NÃO SE EXTINGUIRA Niio t erno que ::i mo~te ve nha me destruir, em tempo :ll1um. S ou itnpe– recivel e tenho cer– teza de que sobre– viverei às 1naiores cat:\str ofes da ter ra. F lameja em mim a chama sagrada da imorta lidade que o milagre da pr ocria– ção acendeu nas éras p rimitivas . Or– gulho-me de sentir lateja r no peito, d ia e noite, o sangue for te e vermelho de meus avós . Alg um d ia tudo isso cessará dentro de mim. Mas a luz que re– cebi acesa não se apaga rá quando o 1neu corpo esfriar com a chegada da grande escuridão ge– lada . Ela conti– n uará brilhando nos olhos cintilantes de meus filhos, que se– rão como estrelas novos a m e ilu1n i– nar os passos nas t revas em que mer– gulharei.
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