Revista da Academia Paraense de Letras 1952 (Janeiro v2 ex2)
· REVISTA DA ACADEMIA PARAENSE DE LETRAS 129 Nada obstante a coragem e a disposição com que foi apresentada, tropeçou na má vontade dos antigos membros da "Mina", como Eustáquio de Azevedo, que pelos jornais a combateram. A pressuposição de que fôra êle um dos inspiradores da idéia reside no seguinte : "Paraense de Belém", aqui nas– cido e vaidoso de sua terra, fôra educado em Portugal por um tipo que lhe guiava escrupulosamente os estudos de hu– manidades, passando depois à França, onde cultivou os seu s pendores artísticos e apurou o seu natural bom gosto. Vindo para o Brasil, fez os preparatórios exigidos pelo Curso de Direito e matriculou-se na Faculdade de Recife, que fre– quentou até o terceiro ano. ~ m pai, perdendo sua mãe logo que chegou a Belé'm, os bens herdados os empregou num jornal de su a propriedade, o "Comércio do Pará", e em brochuras a que aj untava ora versos, ora prosa, mais aqueles do que esta. Cultivava o francês e nele se expressava com a elegân– cia e facilidade de expressão com que manejava a sua pró– pria língua. Gostava de reunir em torno de si, artistas e homens de pensamento. Promovia sessões literárias e musicais, sendo que nos primeiros dias da velha república, no salão nobre do Teatro da Paz, realizou uma em que Clemente Ferreira, compositor estreante, executou duas peças : a "Gavote Re-– publicaine" e a valsa Brune et Blonde, ambas elogiadas em carta, pelo compositor frances Charles Gounod. Publicou "A Arena", revista, onde José Veríssimo es– tampou contos, depois enfeixados nas "Cenas da Vida Ama– zônica", e Paulo Maranhão estreou em ligeiras quadras lí– ricas. Por esse tempo, a presentou em volume o seu romance naturalista, - "Hortência", criticado severamente por Ve– ríssimo e combatido por seus adversários. "A Província do Pará", de que foi secretário e depois di– retor, enquanto Antônio Lemos se contentava em ser o re– dator-chefe, deveu-lhe dedicação sem limites. Com a anuência absoluta do proprietário, imprimiu-lhe uma feição encantadora, que a tornou o jornal mais artístico do país, ao seu tempo. Regressava êle de uma de suas viagens a Pa ris, onde encomendara tipos escolhidos e resolvera moldar o jornal, que era seu pelo coração, pelo. "Éco de Paris", fa– zendo questão que todas as seções fossem subscritas, embora por pseudonimos. Uniformizou os redatores. O homem de apurado gosto, que êle era, denunciava-se em empolgante descrições . Lembro-me que, pela reforma do Palácio do Govêrno de estílo manuelino, para outro in– definido, no Govêrno Montenegro, Marques de Carvalho, aproveitando o primeiro de abril, imaginou um subterrâneo, de galerias surpreendentes, onde se ocultavam riquezas ex- traordinárias. · Tanta força pôs êle em sua descrição, que tôda a gente foi à procura da maravilha, e a imprensa de outros Estados a tnmscreveu, certa de su!l realidade, •
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