Revista da Academia Paraense de Letras 1952 (Janeiro v2 ex2)

REVISTA DA ACADEMIA PARAENSE DE LETRAS 127 Ela csl>oçando um sorriso ca nalha, bate com o lJraço na com-- panhcira para exclamar, con1 a ntais fuln1inan te das i ronias: - O lhe ntana, o " g ringo" é n ovo ! .. . Essa , a história d e m a is un1a triste da viela. Com o remate a êsse relato panorâ mico d os que nasceram sob ? signo da desventura, vou falar de uma pirralha, cuja existên cia e or lada por um sem número de episódios que a inscreveram na gale ria dos organicam.cntc transviados. Faz muitos anos que n ão se fa la nela. Que lhe teria acontecido ? Unta regeneração, uma cama de hospital ou uma mo desta sepult ura? O seu n om e é lindo como um sorriso ü cntro de cinco letras : Edith. A sua iclacle, a inda a ela inocência e elas bonecas de celu– lo ide para as crianças ricas e de pano para a s miseráveis. Era im- 1>uh erc, a inda, coitad inha . i\Io rcna, olha r simpático, atrevido e pene– t rante. De uma v ivacidade como poucas. A sua primeira façanha gan hou o nome de guerra "Aperta-a-calça" . P roveiu-lhe do seu sis– t ema de "artistagem" . "Aperta-a-calça", no exer cício de furtar, era um olho. Entrava numa loja pa ra ir lá dentro apertar a calça, prestes a cair. Ningu én1 se apercebia, ou suspeitava, que, rápido como um beijo furtivo de an1or, ela la nçava mü.o, fls ocultas, de dinheiro o u o bj eto que pudesse his}lar. J:i se contacam dezenas de procsas d essa garota de doze anos, com um futuro arrepiante e desolado r. A policia ia-lhe no en– calço e segurava-a. Ela sorria e, da rdejando ironia, que dcsconcerta.– va a a uto ridade policia l, fazia com que todos encahulassem e recea s– sem o ridículo. A "Aperta-a-calça" esteve recolhirla aos asilos de Mendicidade e do Bom Pastor, lugares de regeneração e d e piedade, mas, ao m enor descuido, burlava t ôd a a vig ilància e fugia como uma avczita que anta o CSJlUÇO. A cidade tõda deplorava -lhe a sorte, comovia..sc com as suas lJrilha turas, mas não deixava de sorrir quando a s ua es pe rteza tri– unfava ela precaução dos com e rciantes, do povo e da própria policia. E Jamentava-sc ntais o in fortúnio d o d estino d essa menina, ao saber-se fJ.UC, alént de con1unicar-lhe as taras mais t ristes, seu ig– nohíl pai fê-la , desd e tenra idade, estender a m ão à caridade J>Ílhli– ca impelindo-a à vagabundagem e ao crime . .. i;:Je, ao que se soube, e ra u1n vadio, larápio, às vezes, e quis ter uma filha que o enchesse de orgulho. Conseguiu-o plenamente ...

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