Revista da Academia Paraense de Letras 1952 (Janeiro v2 ex2)

REVISTA DA ACADEMIA PARAENSE DE LETRAS 125 CARNAVAL DO VICIO E DA MI SERIA (Porque êsscs tl110s são o riso das ruas... De EDGAR PROENÇA F.<1-:;:or Proenç:1. cadeira n. 27 - ••Jnlio Cezar Ribeiro de Sousa'' Desaparecem , aos poucos, tangidos pela morte, certas figuras em que llclétn e ncontrava p ábulo para, à custa dos seus infortúnios, d ela s divertir-se. Os "tipos popula res" da rua existem cm tôda 11arte, cada um caracterizado pelo seu feitio simpático ou repulsivo. Ofendem , muitas vezes, com os seu s a ndrajos, à decência urbana . .. Vem a policia e q ue r detê-los. Usa d e energias. Acontecia isso. por exemplo, com o "Bode", que sê obstinava cm desobedecer as d eter– minações policiais . E1npacava e n ão atendia. O povo rodeava-o e lhe be liscava a bravura. a cirrand o-lhe o ânimo para a pornografia. E o " Bode" ü esabava, sõbrc os ouvidos de q uem queria e d e quem não queria ou vir, a série licenciosa de suas inconveniências, que eram recebidas 1,clas risadas canalhas do molecório, e também de muito empinado e despudorado cida dão ... Lembro-me, nos 1ncns tempos de menino, do ºEurico-barbei– ro" . E ra u1n home1n forte, <1ue vivia dentro da a lma das ruas. Di– fe rente dos seu s "colcg"-s", êle que os gravoch cs zombam e mal– tratam se constituiu o terror da pirrnlhada. Diz.ia-se que a quêlc in– feliz fôra traido, pela esposa, e enlouquecera. Saíra, mais tarde, do hospício, e J>odcria, a todo 1nom cnto, ve r-se atacado do delírio p eri– goso. Isso con stiluia o receio ela rne ninada, que o olhava d e longe. F.urico t.inh a a n1ania de ser um s rande cantor de óperas . E, por da-cã-aq ueJa-palha, cn1 plena rua, cantava árias de "Traviata", " Lúcia d e Lamc rn1oor", "Aida", e sua voz efetivamente não era d as 11iores. Na n1csn1a época, outro "tipo popular" que a ndava n a moda, e ra o " Bacalhau". A excen tricidade dele con sistia em andar pausa– d a mente, sem alaridos, como quem vive de ntro d e sua tragédia. E ra um homem a ni;uloso, m agro, alto, ve rdadeiro baca lha u d e J>orta de 1ncrccari:t. tsscs espectros Jnunnnos a ssinl atravcssarant a existência. Se– r iam felizes, de ntro d o seu próprio in fortúnio ? E viver pa ra a rua, da rua e na r ua, seria, certamente, obra elo destino. Mas, o seu es-

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