Revista da Academia Paraense de Letras 1952 (Janeiro v2 ex2)

122 REVISTA DA ACADEMIA PARAENSE DE LETRAS manda~do e dispondo no "Jornal do Comércio", que era uma potência, o deportado por obra e graça de Virgílio de Men– donça e com assentimento de João Coêlho, já noivo nesta capital e recebido de braços abertos por Artur Lemos, in– gressa na imprensa da Capital da República, estrelejando n"'O Imparcial", que Macêdo Soares dirigia com inteligên– cia e sobranceria. Genial e esforçado, culminou como bem poucos, entrando, sem forçar portas, para a Academia Bra– sileira de Lêtras, com o vistoso fardão presenteado por José Porfírio e, deputado federal pelo Maranhão, perdeu o man– dato popular com o inesperado triunfo da Revolução de Ou– tubro de 1930, entregando as rédeas do Govêrno do Brasil a Getúlio Vargas, pródigo em perdoar os inimigos da véspera. Olegário Mariano, generoso e magnânimo, amparou-o no os– tracismo, espontânea e admirativamente, cavando-lhe um bico, sem, entretanto, se livrar da cuspidela da ingratidão,– paga ostensiva que lhe feriu a mão dadivosa e benfazeja. Desambientado e indeciso, com rico palacête construido e por saldar, deixou-se abater pela desdita, exagerando situat;ões e vendo fantasmas . .. Em novo palco, trnpeçado nas bambinelas esvoaçantes e entregue a descaídas malsinadoras, jamais prncurou escoP.– der os reflexos embaciados do mal irritadiço que, no fim da vida curta, lhe roeu as entranhas e lhe flagelou a alma, des– cido a apreciações vexatórias, no criticado dos colegas e no re_ferido dos fatos. Inteligente e culto, dos mais apreciados cronistas da sua época, analísta percuciente e crítico reno– mado, com uma bagagem literária de causar inveja e virtua– do pelo esforço próprio, Humberto de Campos deixou-se, contudo, algemar pela angústia amargurante, roubando-lhe a paz de espírito e infringindo-lhe castigo imprevisto. A doença traiçoeira que o havia de vitimar, arruinando-lhe o arcabouço entroncado e premindo-lhe o coração latejante, abriu-lhe a válvula dos impropérios, queixando-se de tudo e de todos, com raríssimas exceções, apenas quando tocado na sua sensibilidade de ]MORTAL ou no referido dos elogios emocionantes. Desandou-se, então, e, sob ironias avassalan– tes, cresceu para se diminuir, no atirado da lama e no esque– cido dos favôres .. . O seu "Canto de Cisne" - que é o seu decepcionante "Diário Secréto" - guardado em cofre forte e para ser lido dez anos após o seu falecimento, maltrata e escandaliza, prin– cipalmente pelo explorado comercial da sua publicação pós– tuma, que a família não quis evitar, dando como justifica– tiva, ser disposição de última vontade. E com ela, recebidos os arames, que não deram, sequer, para o derradeiro confor. to da velha mãe, penando no Piauí, o reverenciado acalen– tador do literato emérito se restringiu e se abafou, muito em– bora o respeito devido ao morto tido "como flor preciosa do sofrimento brasileiro, sabendo marmorizar em páginas imor– tais o esfôrço sublime do labor anônimo da formação na– cional, provocando estremecimentos de admiração e reconhe– cimento, através de palavras que vibram e palpitam em nos• sos coraçÕe!i". t sse trecho aspeado e um tanto ridículo d.a mensagem barata, transcrito por Humberto de Campos, para ~tisfação do seu ufanismo e "como rico de idéias e expres-

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