Revista da Academia Paraense de Letras 1952 (Janeiro v2 ex2)

114 REVISTA DA ACADEMIA PARAENSE DE LETRAS culo, rumorosas e quentes de idéias modernas, a espalhar dos bornais de ouro, costurados pela agulha invisível das horas de emancipação e de ânsia, as sementes do evan– gelho rebelde aos desígnios da ortodóxía, que faz do ideal uma espécie de madrugada eterna, silenciosa e discreta na filosofia dos segredos . Certo dia, o apóstolo das .comunhões rubras, adorador dos poentes que se emolduram de saudade, cerrou os olhos e alçou o braço na última das homenagens ao regente da família celeste, mas de suas penitências crepusculares ficara a chama dessa fortaleza moral - o éco da poesia que é beleza e arte, persistente em t udo, até na harmonia dos astros em movimento cadenciado pelo Infinito, onde a ciência principia a gravar traços profanos de heroismo construtor. O pastor da fronte enrodilhada morrera entoando o cântico dos que são realmente fortes para a Vida e para o Sonho. A História das Civilizações é rica de episódios abran– gendo o complexo das raças em ciclos evolutivos, muitos comoventes e outros chocantes, trabalhados pelo instinto do homem nem sempre dócil às fontes doutrinárias dos conselhos à existência em sociedade. Seria interessante se aqui não estivessemos numa festa de recepção, erguen~ do a cortina da tenda para o batismo ao novo devoto, um lance retrospectivo da Asia Central, berço da humanidade às Américas, que a fantasia dos compêndios alcunhou dé Mundo Novo. Na terra dos Cinco Rios as leis foram promulgadas em versos, e em poemas compostos os primeiros Códigos. Os sacerdotes eram reis e poetas. As legiões tártaras suavi– zavam os sofrimentos cantando, e cantando, os barquei– ros do Volga cumpriam a desdita de arrasta r cabos ao longo das margens empedradas do rio tradicionalmente famoso durante o cétro dos tzares. O ~ontraste, porém, dêsse profundo e recuado senti– mentalismo, oferece-o o chinês desconfiado e interesseiro sutil, indiferente e supersticioso, sanguinário e malvado: indo ao requinte de sobraçar calmamente o coração do inimigo imolado, para comê-lo, após o processo da brasa, no propósito de adquirir a vir t ude da coragem . A poe– sia do Chim atua l reside no silvo das balas mortíferas. Magnifico espetáculo o do sonhador primitivo na ex– tensão duas vezes sagrada, rebuscando as primeiras ori– gens e expandindo no Rig-Véda a dolente canção das suas tár taras. Foi lá que os poetas descobriram o Amor. O quadro geral da América precolombiana abre-se em detalhes sombrios, que se avermelham da época sangrenta das dilatações de impérios europeus, reservada à parte emersa mais compacta do Hemisfério das Aguas, a sorte cristã de surgir sob a influência da Cruz - pena de Deus escrevendo a mals bela estrofe do imenso livro de predes– tinação bistórlca, i

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