Revista da Academia Paraense de Letras 1952 (Janeiro v2 ex2)

110 REVISTA DA ACADEMIA PARAENSE DE LETRAS A razão de compreender e sentir a poesia pura e emotiva nasce de um fenômeno reflexo, manifestado da sensibilidade poética à senslbiUdade psico-analítica do leitor . Abrolham, conseguinte– mente, da pureza e da emotividade da poesia, as predisposições simpáticas do nosso espírito. Porisso, a poesia em versos deve apa– recer sempre seguida de sua corte de atraéncia e de interêsse, mol– dada na forma que se possa adaptar ao processo de difusão, respei– tada a ancestralidade de s ua origem e conservado o senso estético dos velhos mestres. A arte de fazer versos é tão delicada e profunda que, há qua– renta anos atrás, difícil e cerimoniosamente, aparecia um poeta como Tito Franco de Almeida, publicando, acanhado, êste magní– fico soneto : "CORAÇAO Para os plainos do Amor, faces voltadas, serenamente, ensimesmado e absorto, partes, buscas de novo o mesmo porto, través da luz das mesmas alvoradas. Nota, porém, que o trêdo desconfôrto anda a espiar-te e a chegar. Dores cerradas, como outras tantas lâminas de espadas hão de certo deixar-te outra vez mortÓ. Se és, coração, dos corações capazes, de coragens ou cóleras audazes, vai, coração, apressa o passo e corre ! Que importa, a morte, além, te aguarde, certa ? - Um mundo novo de ilusões desperta em cada mundo de ilusões que morre !" Saudosos menestreis da Academia Paraense de Letras hoje nossos patronos, legaram-nos relíquias de igual cintilância e' admi– rável primor artístico. Frederico Rhossard, o príncipe da boemia paraense, cantando os seus amores : "Da mesma essência que o Eterno, criando o s ó! para o dia, fez para o mar - a ardentia, e para os prados - a flor ; E dando às aves implumes um ninho a fim de aquecê-las, fez para o céu - as estrelas e fez-te para o meu amor. Andei por invias paragens, desde o deserto à savana ; Abandonando a choupana, régias vivendas busque i. E desde os áureos palácios à gruta do cenobita foste a mulher mais bonita que em todo mundo encontr.ei. Nas madrugadas olentes em que teu h álito aspiro cheiroso mais que um s..;spiro que a brisa solta ao rosal não sei que estranha tern'ura tôda a minha'alma domina, fazendo-a quase divina ; tornando-a quase ideal ! Das santas o louro estema teu seio em galas reveste, pela bondade celeste que nos teus olhos transluz. E como se a Natureza o belo em ti resumisse deu-te o candôr e a m~iguice aa Virg~m Mãe <Je JesÚ§ 1"

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