Revista da Academia Paraense de Letras 1952 (Janeiro v2 ex2)

108 REVISTA DA ACADEMIA PARAENSE DE LETRAS t emos diante dos olhos e dentro do cornç5o os minérios inspirado– res da literatura nativa - o túmu lo dos nossos pais ; a graça e o encanto dos nossos filhos ; o a ngelismo tutela r das nossas esposas ; a serenidade lendária dos rios e dos lagos e, na palavra de Cruz e Sousa, "essa verde, viva e viçosa vegetação d os vergeis vir gens" ! POESIA ESTILiSTICA No século da velocidade. em que o átomo está influindo dentro das le is físicas e transitórias. como proporção gigantesca, o homem n ão conhece mais distância. Seu passo firme e cé le re no campo d e tôdas as ações hum::inas poucos óbices encontra . É a Vontade marchando d eslumbrada. É o fenômeno empolgando a Vontade. Parece-nos que a própria N::itu reza assiste de palanque aos efeitos de sua influência magn é tica na terra. Se não nos valesse a cronometria dos relógios diríamos q ue uma decorrência de matéria cósmica acelera a rotação do planeta. As criações científicas sucedem-se, dia a dia, confirmando a genia– lidade do homem. E os poe tas e prosadores da época, sentindo essa espécie de temulê ncia da evoluç5o impond erável, cavalgam cada qual o seu Pégaso lendário abrindo ao galope do corsel as fontes de Hlpocrene par a as suas epopéias espirituais e formosas. Ésse des lumbramento, porém, essa desabrida e precipite carrei– ra, mormente em se tratando de vates e romancistas, alguns d êles, quero c r êr, est ão confundindo a liberdade de pensar com a liber– dade de escrever; a amplitude de concepção com a amplitude do senso estético. · · Arrojados e d ispostos como aparecem, a cr iar uma nova escola estilística para a poesia versada, na qual pretend em vazar idéias de renovadores fardados a Henrique Ferrer, na inútil tentativa de injetar com a agulha d o se:1tido ambíguo a fibra sentimentalista e o poder analítico do explorado e generoso leitor ; Essa história de quererem proclamar um novo 13 de maio, para quem nunca foi escravo, para quem sempre viveu em plena liberdade, desde os primeiros acórdes da lir a grega e desde os pri– meiros clássicos lavores cam oneanos de 1950, em cujas fontes Albalat inspirou-se, legando-nos o seu profundíssimo livro "A For– mação do Estilo" ; Não me refiro ao p oeta moderno. Refiro-me a essa poética mo– dernista que ainda n ão entendi (talvez, porque tenho as orelhas fora do taman ho comum) e que aparec~u como tábua salvadora pa ra que qualque r Fausto possa fazer versos à sua Mar garida, sem o indispensável respeito à for ma estilística dos velhos mestres, na absurda alegação de que a poesia nã o n ecessita de estilo nem de escolas e sim de " liberdade e amplidão" ; De minha pa rte n ão aceito a hipótese. A poesia, por si, é a liberdade d o sentimento e êste a vibração espiritual . A idéia é a sua amplidão. O metro e o ritmo são os seus complementos. Com êsse compôsto de sonoridades intangíveis nasceu a poesia de Gregó– rio de Morais, do Barão de Por to A legre, de Pedro II, de Fagundes Varela, de Castro Alves, de Cruz e Sousa, de Seg undo Wanderley, de Antônio Tomaz, de An ta de Sousa, de Gonçalves Dias, de Ca– tulo Cearense, d e Tito Franco de Alme ida , de Santa Helena Magno, d e Vespasiano Ramos e de tantos outros bardos lapidadores das jóias que enriquecem o nosso sodalicio. Envaideço-me citando os n omes dêsses imortalizados e legíti– mos buriladores do verso ritmado, porque só entendo a poesia pela sua brandura, pela sua leveza, pe la sua harmonia a uditiva ; que atinja suave e fàcilmente ao sentimentalis mo da minha raça, que fale, que divulgue, que propague em clarinadas a legres as belezas e as maravilhas da terra comum e d êsse v ulcão interior que guar– damos no peito como órgão marcante da razã o de ser da nossa vida. O ritmo ê a poes ia da música e é a mús ica da poesia. Quem solfeja fora do compasso não é músico. L ogo. . . O verso deve ser compôsto dentr o dos princípios de sua origem. D eve ter ritmo, cad ê ncia, harmonia e concepção acessível à generosidade de quem o~ lê .. Sem essas caracteristicas não compreendo o poeta. Quem é o seu juiz e ao me_sm o tempo o seu advogado? Outro poeta ? ... Não ! O povo, o le itor que procura nos livros alguma cousa que se compare, que se a ssemelhe a êste ou aquêle episódio de sua vida, aos seus sentimentos e aos seus complexos. Quem lê deseja acla rar a idé ia, e n contrar com facilidade a explicação do fato e o motivo que o prende à leitura. A poesia modernista, com a concepção em :síntese, por mais p erfeita, dentro dessa escola, distancia-se sobre- l

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