Revista da Academia Paraense de Letras 1952 (Janeiro v2 ex2)

REVISTA DA ACADEMIA PARAENSE DE LETRAS 105 gumas gramas de alegria é nccessar10 ter muitas lãgrimas nos olhos e muito perdão nos lábios . E e la, a legítima premiada neste sorteio de luz, experimenta hoje, bem o sei, a doçura de uma graça que o Céu lhe concede, assistindo ele perto, a gentileza dos meus nobres pares ofertando-me um lugar demasiadamente grande para mim nesta Academia. Esta noite é a primeira pãgina iluminada no tenebroso livro da minha vida ! Apraz-me concebê-la com aquêle extraordinãrio simbolismo de Cruz e Souza : - "ó, doce abismo estrelado ! Nir– vana sonâmbulo ! Taça negra, de aromas quentes, onde eu bebo o elixir do Esquecimento e do Sonho ! Como é belo vagar no taber– náculo das tuas maravilhas ! no impasse cio teu Sonho ,.. E eu sou, nesta noite, o batráquio c:1sin1cs1nado e contempla– tivo, diante do constelário que o d eslumbra. Deixai, pois meus nobres confrades, que eu continui encant:ido pela vossa atenção, inspirado pela vossa generosidade. Creio nos luminares que me c;mfortam nesta casa, porque, como di~$C o poeta : "... bnstn crêr lncleflnlclnmentc pnrn ficar !lumlnado tudo de uma luz imorta l e tr:rnscendente !" Cedendo a instâncias de amigos devct::idos e sinceros, arrojei- me demais nessa aventura de quem presume achar ouvidos para os descompassos de uma lira piegas e jíi sonolenta, tentando vibrar ao lado direito de um sodalício onde tantos e renomados "crótalos claros de cristal estalam" ! E não sei por que, aqui estou. Convenço-me de que não venci. Venceram, sim, os que se congregaram para eleger-me a uma ca– deira, nesta Academia de Letras. É sempre assim, nos sufrágios. A vitória se faz sentir mais pela . pujança ela facção do que pelo pró– prio valor do candidato. Minha ascensão nesta casa reveste-se de um mistério d e lenda. Ofusca-me o esplendor dêsse carro triunfal em que fidalgos pares me conduzem, trocando os meus andrajos de vassalo por uma túnica ele rei, como naquele dia em que. por um surdo grito de re– volta, a marinha brasileira prestou ao cabo João Cândido as honras do almirantado nacional. Em todo caso, eis-me aqui, prestando o juramento de fideli– dade de bem se rvir às letras pátrias, no ilimitado da minha capa– cidade intelectual, para deixar aos meus filhos a herança de um nome aureolado, não pelos meus 1nerecimentos, mas por figurar entre a s mais finas expressões culturais que abrilhantam a Acade– mia Paraense de Letras, entre as quais o meu patrono Terêncio Porto, cujo fulgor espiritual me encoraja no desempenho desta representação . A Academia Paraense de Letras. na sua segunda fase, isto é, em 10 de agôsto de 1913, conseg uinteme nte, treze anos depois, quando Rocha Moreira, o memorável' e inspirado poeta do "Pan", juntamente com Martinho Pinto, àquela época, estudante de Di– reito, procuraram novamente reunir os homens de letras, nesta ca– pital, entre êles figurou Terêncio Porto, que, aos ·20 anos de idade, já oferecia os fulgores da sua pena fecunda ao ser viço do jorna– lismo indíge na. O Silogeu paraense, que em 1900 se compunha de 30 membros, em 1913, por proposta do dr. Remígio Fernandez, baseando-se na composição das Academias de Letras de S. Paulo, Rio, Bahia e Pernambuco, ressurgiu compôsto de 40 membros e ficou então assim constituído : dr. Paulino de Brito, dr. Augusto Meira, dr. AUredo Sou"la, -:João Afonso do Nascimento, Padre Joã o Crolet, dr. Luiz Barreiros, Professor Paulo Maranhão, Valente de Andrade, Medeiros Lima, dr . Remígio Fernandez, dr. Acilino de Leão, Olavo Nunes, Gildáslo de Oliveira, Jaime Calheiros, Eustáquio de Azevedo, dr. Teixeira de Lemos, dr. Tito Franco de Almeida, dr. Severino Silva, dr. Felix Coêlho, dr. Manoel Lobato, Raimundo Morais, Terêncio Porto, Alves de Sousa, Flexa Ribeiro, dr. Heliodoro de Brito, dr. Mo– reira de Sousa, dr. Allredo Lamarline, dr. João Ped1·0 ele Figuei– redo, dr. Martinho Pinto, dr. Manoel Bara ta, dr. Bento de Miranda, dr. Inácio Moura, dr. Dejard de Mendonça, Amândio Mendes, An– tônio Marques de Carvalho, Bertoldo Nunes, Carlos Pontes, Laude– lino Batista, Mme Guili Furtado e Rocha Moreira. Foi entr e êsses luminares da planicie que subiu e cintilou em céu aberto a estréia cultural do meu saudoso patrono Terêncio Porto. Quatro anos antes, em 1909, a pena mágica dêsse delicado cro– nista do "Agua Azul" já deliciava os leitores dos jornais e revista&

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