Revista da Academia Paraense de Letras 1950

1 REVISTA DA ACADEMIA PARAENSE DE LETRAS 87 Como, pois, neste panorama, conservar a tranquilidade de espirito "tão necessária à coordenação das ideias? Como elaborar obras de pensamento, fecundo e construtor, nêste .terrivel clima de insegw·ança e de incertezas? Nesta fase tão aguda para o mundo civilizado, este deve de ser. -eertamente, o vosso estado d'alma, senhores acadêmicos, vós que re– wlhe;s no fundo iluminado, na torre de marfim da vossa gloriosa. Academia, o majestoso patrimônio literário desta terra, em que vive– mos, e que todos nós tanto amamos. Tendo eu de saudar-vos em nome do Instituto Histórico e Geográ- _fico do Pará, mediante h cnrosa deliberação da sua Diret.oria, é esta, igualni.ente, e nem poderia deixar de ser, a situação do meu espirita, n êste instante solene e memoravel em que visitais ésta casa, que, pe– los laços da intelig·ência e do coração, é também vossa. Acreditai-o, sinceramente, senhores acadêmicos. Penetrai cs humbrais desta vetusta agremiação e compreendereis, desde logo, que é bem semelhante ao da vossa o destino cultural des– te Instituto. E para confirmá-lo recordo-me que, estuàanào Humberto de •C::..mpos a obra literária de Aluisio de CasLro, para!elamente ã. ativl– -dade científica de Roquette Pinto, então eminent.! diretor do Museu .Nacional, àisse o saudoso intelectual patricio, ,através de páginas ma- 1·avilhosas, que tão exuberantemente soube produzir: "Tod-:..s os mu– seus são tristes e o que a eles se recolhe vai como ao illtimo fim dos -seus destinos". Assim acontece, também, senhores, com as Academias de Letras -.e c.om os Institutos de História e Geografia pátrias. Vós sois os iluminads guard,1ães das letras; nós, os modestos nar– radores dos ac::.ntecimentos humanos e da terra. A elas e B, êles dedicais e dedicamos igualmente nossas 'lidas; a --todos ligarn,os para sempre os nossos destinos. Na m-ór parte das vêzes, em última análise, com os corações •-dilacerados pela dôr, divulgamos, com mais ou menos brilho, a magni– iic.-ência das obras daqueles que já se foram da dolorosa existência. .terrena. O nosso mistér comum é julgar com indefectível serenidade; o nos– :so mundo, maior ou menor, n ão importa, é, em prineípio, o Passado. E, na verdade, assim se evidencía. Embora velho, com a cabeça encanecida pela neve dos tempos. tendo já deixado, há muito, para trás as dôce.s ilusões da minha ju– ventude, não descreio, contudo, da energia e do genio progressivo, -eriador mas sempre inconstante, dos moços. Porém, é bem certo, que as Academias e os Institutos vivem mais -das glórias ou me.smo das amarguras e das saudades do Passadc, do ,;que das obras do Presente e, muito menos das avançadas e largament& .illllagmosas criações do- Futuro. Senhores: No transcorrer da brilhante jornada em que condignamente co, ·memorais o sol')erbo jubileu da vossa esplendorosa Academia, e no

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