Revista da Academia Paraense de Letras 1950

72 REVISTA DA ACADEMIA PARAENSE DE LETRAS perpétuamente. O título de imortal era uma espécie de sacrament.:>,,.. o qual uma vez atribuído nunca mais poderia ser retirado. Ascendendo ao trono' Luiz XIV, o novél grêmio de cultores da . inteligência sofreu impulso de m<·nta. O soberano reivindicou para a corôa o direito de proteção perpétua à Academia, no que foi segui– do, religiosamente, por todos cs seus suc-essores. Deu-lhe séde especial e mobiliário, passando os imortais a receber, por sessão a que com– pareciam, o "jét:m" de presença, que lhes facultava, áqueLa época, a posse de 1. 2CO francos anuais. Esse "jeton" era uma medalhinha de - prata, idêntica às placas de metal. numeradas, hoje vistas nos Ban– cos e outros estabelecimentos. E assim viveu por largo tel'l1JJ)o, mais de um século, essa espécie de centro de altos estudos. onde se fazia a seleção do intelectualism.o francês. Com o advento da Convencão N,adonal a Academia foi ca– pitulada de nociva ao interesse público, e extinta por um decreto. Restaurad'a a monarquia não mais teve colapsos em sua marcha. Não havia honm mai.or para os homens do pensamento que ser um . dç:is quarenta da Academia, cuja fama se irra_diou pelo mundo em fora. Entretanto, a política sempre lá reinou .e muit o talento foi pos– to de lado, e muita mediocridade foi admitida. o marechal duque de Saxe, herói de Fontenoy fidalgo de poucas letras, que entrou· pai:a a celebre instituição sein nunca pronunciar o discurso lauda– t ono ao patrono escolhido. dizia a alguns anligos: "C'est pasma f~ut~. voyons. 0:n m'a invite. On a même insisté . Je suis entré. mais Je·– comiprends pa.s ces choses lá" . Piron o conhecido e notavel sarcasta, fez varias tentativas para ingressar à Aciademia sempre sem resulta-– do, ~ antes de morrer, pediu lhe mandassem gravar no sepulcro o– segumte epitáfio : "Ci git Piron qui toute _sa vie ne fuit rien, pas mênte académicien". · ' · Os imortais, durante as sessões sentaviam-se em cadeiras co– muns, apenas o diret or tinha uma de braços. Uma ocasião. o Car– deal Destrée, sentindo-se doente requereu lhe permitissem mandar para o recinto uma poltrona onde mais a cômodo pudesse estar. n~ que foi atendido por seus pàres. Luiz XIV ao saber disso. enviou a . Academia quarenta poltronas igua is. Tal a' origem do ambicionado "!ª1!te1!il" ·acadêmico, por cuja posse muita gente se batia, foss~ J?ela . d1stmçao, fo.s.se pelo "jeton" consolador. Quando a letrada Cnstma, rainha da Suécia visitou a Academia numa época em qu,e era r igo– r'?sa _a observâ:ncià. da etiqueba, ninguem podendo sentar-se. sem pré– via hcença diante dos monarcas os acadêmicos sentaram-se. colo-– cando, porém, ias poltronas a umà certa distância da mesa. Elm 1872, D. Pedro II, o nosso sábio imperador indo à Academia viu o fáto re- petido. · • Entre nós brasileiros foi em 1721 há mais de dois séculos, que surdiu a primeira Academia. Denominava-se ela dcs "Esquecidos". Alexandre Mésseder ent seu formoso livro "A Língua e a Nacionali– dade",.acredita 9ue •a Academia, logo de ccmeço, ~o gra~ar o _se_u t_i- · tulo, v10lou a lei fundamental da linguae:em escrita cuJa ex1gencl!.l. precípua assenta no emprego de palavras tais que transmitam, in– tegralmente, ao leitor o pensamento de quem as escreveu. O termo , "esquecido" tanto póde s:gnificar "nã,o lembrado, olvidado. descui– dado", como "paralitico léso insensível". Mésseder julga que a de– signação de esquecidos 'acha 'o seu significado no fat o de os acadê– micos se esquecerem de compa recer às sessões ... Mais tarde, a Academiia mudou de nome e passou a chamar-se·• sucessivamente: dos "Felizes", "Franciscana Fluminense". dos "Selé•• -

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