Revista da Academia Paraense de Letras 1950

68 REVISTA DA ACADEMIA PARAENSE DE LETRAS min:stração; por um mundo totalitário exclusivo, ou por um mun– do democrata, tão somente? E' tudo inveja, despeito, vaidade; é tudo ciumes, caprichos, ódios? E o sac1ificio das nações, o sacrificio dos povos? Sim! O tufão, essa calamidade ,essa infamia resultaram da "In– dustr:a da Guerra" ! ... Foram os magnatas dessa industria cs autores da trágedia inau– dita. Fora.m êles que lançaram o germen da discordia no espirita das nações em luta e dos homens que as governam. Foram êles que ur– diram, na sombra, a trama diábolica, para o cheque da destruição. Em nada influiram as côres das camisas. Não entraram elas nas cogitações dos que atearam a fogueira tremenda. Sabe d isto, perfeitamente, conscientemente, o sr. Ford. Mas, sômente agora, quando as suas oficinas se adaptaram à fabricação de armamen tos, os aviões de guerra, o milionário de Detroit baixa l.l mascara e puxa a braza à sua sardinha, olhando unicamente o colo– rido das cam:is·as dos que se guerreiam. E' o que se pôde chamar de "Daltonismo industrial". Fosse o sr. Ford aquele humanista gue supunhamos aquele teosofo amigo de Edson ,e jamais pensaria em fornecer aos povos em guerra a má– quina para o seu total aniquilament o. Democrat a, que deve ser, filho da maior democracia, dessa América de liberdades, como ex– ternar-se .o $1'. Ford. cem t anta leviandade tresandando rancor, numa caricatura de deus apocaliptico, ving'ativo, truculento, ico– noclasta? Rico, riquissimo, independente, cidadão de uma democracia li– vre, devêra o sr. Ford falar n eut ro tom; expri,mir o seu pensar ante a hecatombe horrenda, apresentando o rosário de conceitos bons que a sua idade e a sua experiência apreenderam, no lidar dos ho– mens. O seu papel, neste último quartel de vida, seria o de utn apó~tolo ,o de um evangelizador, porque teosofia é vida sã, é per– feiçao. Triste ocaso! Vejam que apostolização que evangelização! /\.s do extermin:o, a ferro e a fogo, dos povos de maiores tradições. os mais civilizados e fecundos nas ciências nas letras nas artes. · Ford enlouqueceu. • • ' Para esse homem, a quem tanto admirava.mos que maiores e sinceras simpatias nos despertou, invocamos um castigo ou uma pen..'l.. Porque êle proferiu palavras criminosas, cometendo, dess'arte. em in– tenção, dei.tos puníveis , contra os seus semelhantes . Não estará passivei de uma eletrocução? Estas palavras, que constituem aflitiva página de decepções de certa hora do mundo, foram escritas em 1941 no começo da voragem da guerra, quando já as t enazes do DIP inquisidor esmagavam, com– primindo, a liberdade de falar, de transmitir o que se pensava e sen– tia . Tudo se encer rava no silêncio precauto dos a rquivos. A lingua sofreu a para lisia daquele congestivo perdendo a função natural. Então Ford ficou na ntinha observação. Se déra, de fato aquela. estrevista, que se não soube ter sido contestada, se pronunciára, em verdade, t ão monstruosas declarações, daí por diante aquele extra– ordinário introsador de negócios, coordenador de operários, abro– ouelou-se em muda concentração no seu feudo industrial de Detroit. Viu-se no perpass!l!f daqueles dias que a sua atitude ou suas atitu– des de' trabalho, desdobrado em prol da causa da democracia, de– fendida pelas nações aliadas, deram a impressão de que Henry Ford

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